Depois de um ano de estagnação e dois de queda profunda, o aumento modesto de 1% no Produto Interno Bruto (PIB) sepulta a recessão no Brasil. O fim do ciclo de queda na geração de riqueza no país havia sido anunciado por um comitê independente em outubro. Mas o dado oficial carimba a observação técnica de maneira definitiva.
É importante observar que deixar a recessão para trás não significa redenção definitiva.
O país segue mergulhado em crises múltiplas, inclusive econômica, como ficou evidenciado no aumento do desemprego registrado na quarta-feira (28).
O pior ficou para trás: todos os indicadores, menos o desemprego, mostram avanços, ainda que relativos. O dado mais preocupante não está no retrovisor, mas em um indicador da qualidade da pavimentação do futuro. O termômetro de investimento contido no item Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) segue tingido de vermelho. Isso não significa que inexistem projetos de expansão, apenas que segue em queda na comparação anual. O recuo foi de 1,8% em relação a 2016, determinado principalmente pelo segmento de construção, que acumulou tombo de 5,6% ao longo do ano passado.
Assim como o desemprego, o investimento consta nos manuais de economia como um dos últimos vagões do crescimento. É previsível que se comporte assim e ajuda a explicar a baixa velocidade da retomada. O ritmo lento da saída da recessão permite voltar a utilizar capacidade instalada, mas como as empresas estavam operando muito abaixo de seu potencial, ainda não estão sendo pressionadas a investir para dar conta da demanda.
Para Ignácio Crespo Rey, economista-chefe da Guide Investimentos, que esteve nesta quinta-feira (1º) em Porto Alegre, o resultado ligeiramente abaixo da média das expectativas desestimula projeções de crescimento próximas de 3% para 2018.
– O investimento vem reduzindo o ritmo de contenção e há expectativa de que volte a ganhar fôlego. Mas quem estava com projeção perto ou acima de 3%. deve estar repensando o cenário.
Rey se diz otimista em relação ao Brasil especialmente pelo cenário ainda benigno no Exterior. Apesar das preocupações com alta de juro nos Estados Unidos, avalia que ainda não há sinais evidentes de a abundância de recursos vá secar repentinamente. Para o Brasil embarcar na recuperação, emprego e investimento precisam ganhar velocidade.