É difícil não contrariar interesses ao enxugar o número de ministérios. Todos podem ser extintos, menos o que toca interesses específicos. Sempre vai haver reações. E o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) começou com dois dos mais polêmicos. Primeiro, anunciou a inclusão da Indústria e Comércio no superministério da Economia de Paulo Guedes. Provocou uma onda de irritação no empresariado, que deu a ele apoio quase unânime. Agora, decidiu varrer a pasta do Trabalho para algum lugar. Não sabe qual.
O maior problema, nesse caso, não é a fusão ou a extinção, mas o sinal de desdém relacionado a uma questão que, neste momento, está entre as que mais travam o crescimento do país: os mais de 12 milhões de brasileiros sem emprego. O futuro do Trabalho, segundo Bolsonaro, é ser "incorporado a algum ministério". Sugere que não tem a menor relevância.
É fato que, no Brasil, o Ministério do Trabalho tem sido mais fonte de problemas do que de soluções. Passou por forte desgaste durante o período em que Cristiane Brasil, filha de Roberto Jefferson, foi indicada para assumir a pasta. Depois disso, foi atingido por novos escândalos em série, todos ligados ao sistema de apadrinhamento político que domina as indicações aos cargos no setor.
O indicativo de decisão – pode haver recuos, como em outros casos de fusões, cujo desfecho ainda não é conhecido – veio depois de Bolsonaro ter cometido uma gafe tão grande quanto o contingente de desempregados. Mencionou que havia "farsa" na estatística de emprego, um levantamento tão precioso que mobiliza milhares de pesquisadores na coleta e na interpretação dos dados.
O loteamento de cargos no Ministério do Trabalho não justifica a extinção da pasta. Um ministério enxuto, focado em políticas que, se não geram postos de trabalho, permitem articular estratégias nessa direção, seria capaz de dar parte das respostas que os brasileiros buscam. Estruturas de decisão com esse status existem em países que Bolsonaro admira – e em cujos dirigentes se inspira –, caso dos Estados Unidos. Lá, o Department of Labour tem o mesmo prestígio de outros "departamentos", como os ministérios são chamados, desde o de Estado até ao de Justiça.