O economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social, apresentou no início do mês pesquisa que mostra o impacto da crise no aumento da pobreza e na distribuição de renda no país. Nos últimos quatro anos, a miséria cresceu 33% no Brasil. São 23,3 milhões de pessoas que vivem com menos de R$ 232 por mês, 11,2% da população. A pedido da coluna, Neri fez um recorte da pesquisa para o RS. Observa ainda que, em anos de eleição presidencial, a pobreza tende a cair no país. Mas, em regra, volta a aumentar no ano seguinte.
Do final de 2014 a 2017, o quanto aumentou a pobreza no RS?
O nível de pobreza no RS ao final de 2017 foi de 4,68% e, no Brasil, de 11,8%. De 2016 para o ano passado, a pobreza no Estado aumentou 3,86% e, no Brasil, 3,21%. Subiu um pouco mais entre os gaúchos. De 2014 para 2015, quando ocorreu o grande aumento da pobreza, subiu 22,04% no RS e, no Brasil, a variação foi de 19,33%. Mas, para se ter uma referência, na Região Sul, aumentou 25%, mais do que a média brasileira e gaúcha. De 2015 para 2016 não deu para comparar, porque houve mudança (na metodologia) da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).
É possível perceber alguma razão para essas diferenças?
Neste estágio da pesquisa, não. Mais para a frente, vamos fazer uma decomposição e incorporar a restrição fiscal que bateu no Estado, uma vez que o mercado de trabalho foi melhor que o brasileiro. O RS é a Flórida brasileira, com a maior proporção de idosos, peso fiscal forte, mas torna difícil combater a nova pobreza por falta de recursos.
E como se comportou a renda do trabalho?
Também em três anos até o segundo trimestre de 2018, subiu 0,32% no RS e caiu 3,44% no Brasil. A pergunta é por que o desempenho no RS foi melhor? Tem duas diferenças importantes: a primeira é taxa de desemprego, que subiu nos dois, mas cresceu o dobro no país em relação ao Estado. Outra diferença é jornada de trabalho, que aumentou 0,17% no RS e caiu 1,24% no Brasil.
E quais faixas da população foram mais atingidas?
Todos os grupos da sociedade perderam, com uma exceção, as mulheres. Tiveram aumento de 0,31% na renda. Isso em nível nacional.
Quais são as razões para o aumento da pobreza no país?
A combinação de recessão associada à inflação, no início. Ou seja, estagflação. O desemprego e a inflação chegaram a dois dígitos. Depois, a inflação foi controlada, mas o desemprego continuou alto. Temos também os problemas fiscais, que inibem as ações anticíclicas de combate à pobreza. Em 2015, o Bolsa Família ficou congelado em termos nominais, com inflação muito alta. Neste contexto, fica difícil colher resultados sociais.
A pobreza tende a continuar aumentando em 2018?
Fizemos algumas projeções usando dados de até meados do ano e nossa estimativa é de que a taxa de pobreza caia de 11,18% ano passado para 10,95% em 2018. Isso é parte do ciclo político. Todo ano com eleição (para presidente e governador), a pobreza tende a cair. O problema é que sempre no ano seguinte à eleição a pobreza aumenta no país. Isso mostra o oportunismo político, que gera instabilidade.