Aos 94 anos, Anton Karl Biedermann se prepara para dois eventos: o Pan Americano Master de Natação e o lançamento do livro 50 Metros a Mais... Nascido perto da água, em Rio Grande, passou a adolescência em São Paulo. Em Porto Alegre, criou a Diehl, Biedermann & Bordasch, empresa de auditoria que se tornou uma das maiores do Brasil. Presidiu a Federasul, o conselho do Sebrae e a agência Pólo (na época, com acento). Na próxima semana, participa de um talk show na sede da ADVB-RS para lançar o livro. Na seguinte, estará em Orlando (EUA), para disputar o Pan, para o qual se prepara, desde há muito, nadando entre 2 mil e 3 mil metros por dia, seis vezes por semana.
Qual é a sua rotina de treino?
Eu nado todos os dias, de 2 mil a 3 mil metros, menos um, que eu dou uma descansada em um dia da semana. Faço musculação três dias na semana, para se manter vivo. Em 15 dias, vou disputar o Pan Americano Master, em Orlando, na Flórida. É o antigo veterano, com nome mais imponente. No ano passado, disputei o Mundial também, um espetáculo.
Como o humor anda em relação ao país?
Horrível. Estava lembrando, vendo esse espetáculo trágico de domingo, onde é que vamos parar? Não vejo perspectiva de que se tenha um grupo de pessoas com capacidade para acertar. Não só o país, mas o Rio Grande do Sul também. É o segundo Estado com maior débito. Como vamos arrumar isso?
Piorou ou estamos menos tolerantes?
Sempre foi ruim. Pouco antes da década de 1970 começou essa degringolada. Em trabalho na Fiergs, Guilherme Moojen, já apontava o problema da Previdência naquela época, que já era 20% da folha. Alertava que poderia ficar como hoje, acima de 50%. Apontava uma porção de vantagens a diversas categorias, que acabou provocando tudo isso. Um grupo de pessoas responsáveis poderia pôr fim a essas vantagens absurdas, concedidas em detrimento da população, que é quem paga.
Que história lhe marcou mais nesse período?
O que mais me choca é a decadência no Rio Grande do Sul, porque nós erámos um dos melhores Estados do Brasil. Na minha impressão, dois momentos colaboraram para isso. Quando, durante a guerra, fecharam escolas alemãs e italianas, sem substituir por nada, tivemos um baque grande. Algumas mil crianças ficaram sem escolas de um momento para outro, deve ter produzido influência gigantesca naquela geração e nas que se seguiram. Medo grande do poder público. É o Deus soberano, para mal e para bem. Também o gradativo desaparecimento dos bancos locais, havia o Sul Banco, Província, Nacional do Comércio. Trabalhei em bancos e via como apoiavam os pequenos empreendedores. O Interior todo era quase só de pequenas empresas e os diretores conheciam todos os empresários, aconselhavam, emprestavam dinheiro. Criava uma força para o Rio Grande do Sul muito grande, que desapareceu. Os bancos grandes ficaram impessoais.
O senhor programou essa sua vida atlética?
Fui educado assim. Minha mãe, que era muito avançada, nos fazia praticar exercícios físicos. Havia um programa de ginástica na Rádio Nacional. Eles vendiam quadros grandes, com 50 exercícios. Tinha um instrutor que todas as manhãs orientava as pessoas a fazer os exercícios. Nós crianças gostávamos, fui pegando gosto. Depois fui para São Paulo, entrei no Corinthians, onde eu comecei realmente a praticar a natação. Descobri que a gente pode estar com um problema gigantesco que, se remar ou nadar, aquilo desaparece. Isso foi o que me levou a nunca mais parar.