No dia seguinte ao vaivém jurídico sobre a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o feriado em São Paulo, onde funciona a bolsa de valores e se concentra a maior parte dos negócios em câmbio atenuou eventuais reações negativas no mercado. Nesta terça-feira, o câmbio vai operar sob a influência calmante de um grande leilão de swap cambial (tipo de contrato que equivale à venda futura de dólares). Mais do que o nervosismo de curto prazo, os episódios do último domingo correm o risco de assombrar o futuro imediato do Brasil. Alexandre Espírito Santo, economista da Órama, plataforma de investimentos online, avalia:
– O que aconteceu no domingo vai adicionar incerteza, o que significa mais risco para o país, o que é péssimo sinal.
No Brasil, a insegurança jurídica já é tão pronunciada que se diz que, aqui, até o passado é incerto. Ao expor sem disfarces e em dois sentidos a motivação política, pondera o analista, o Judiciário deixa de cumprir um papel que tem historicamente, de moderador:
– Seria o que modera, apara e traz calma. Ao contrário, jogou uma boa água quente na fervura.
Habituados com dúvidas sobre política e economia, pondera Espírito Santo, investidores se preocupam mais quando a incerteza chega ao Judiciário:
– Isso afugenta as perspectivas de investimento mesmo depois da eleição. Uma guerra de decisões legais como essa é inédita até em um país como o nosso. É preocupante por dar a sensação de que o dia seguinte à eleição pode não ser definitivo.
Com 30 anos de experiência no mercado financeiro e quase 20 em sala de aula, Espírito Santo se confessa “estupefato” com a sequência de fatos de domingo que, na sua visão, abriu “uma espécie de vácuo legal”.
– Isso cria instabilidade tamanha que preocupa mais a médio prazo do que no dia seguinte. É preciso saber qual regra vale e se vai valer mesmo. Importa mais do que se o mercado vai subir ou cair.
No time dos que acreditam que é possível mudar o Brasil – um dos motivos para estar em sala de aula –, o economista considera necessário evitar episódios como o do prende-e-solta para o país voltar a crescer:
– Ninguém vai colocar dinheiro em algo em que tem dúvida.