Caminhoneiros e Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) têm nesta segunda-feira novo encontro para tratar da tal tabela de frete, motivo de bronca do setor produtivo e idas e vindas do atabalhoado governo Temer. Espera-se que prevaleça o bom senso de não insistir em saídas artificiais que criem mais nós. Vítimas da confusão em que se transformou o Brasil nos últimos anos, os profissionais da boleia ainda não entenderam que fixar preços não vai solucionar os problemas da categoria.
O cerne da questão dos baixos valores do serviço de levar a trazer mercadorias é o descompasso entre a oferta e a demanda de transporte no Brasil nos últimos anos, como mostrou a coluna há duas semanas. De 2010 até o ano passado, a frota circulante de caminhões no Brasil cresceu 37%. No mesmo período, o PIB brasileiro avançou apenas 10,9%. É pouca carga para o número de veículos rodando.
Uma solução a caminho, portanto, seria a economia voltar a crescer. Sim, os caminhoneiros padeceram com a recessão e boa parte da revolta — que explodiu pelo preço do diesel — tem origem no fato de que a procura por transporte subiu muito menos do que a oferta de frota. Mostraram força com a paralisação, mas o resultado foi que a atividade, já fraca, ficou ainda mais debilitada. O Itaú, por exemplo, anunciou na sexta-feira que revisou sua estimativa de crescimento do PIB em 2018 de 2% para 1,7%. Desta redução, 0,2 ponto percentual em razão das consequências da greve.
Economia ainda mais devagar significa menos carga. Sofrerão autônomos e empresas que, suspeita-se, incentivaram os bloqueios. Não há tabelamento que resista à mais antiga lei de mercado. Assim, a inquietação da categoria foi como um tiro no próprio pneu.