A abertura de investigação sobre a venda de ações do Banrisul na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) indica mais do que um procedimento burocrático como centenas de outros adotados diariamente. Considerada a "xerife" do mercado de capitais – ambientes
e as práticas em que se negociam papéis de empresas e seus derivativos, entre outros instrumentos financeiros –, a CVM não é famosa exatamente por sua diligência. Pelo contrário, é uma instituição que só age diante de evidências de que suas instruções podem ter sido descumpridas.
A negociação de "valores mobiliários" tem regras estritas, embora sejam dribladas com certa frequência. No caso do Banrisul, a operação que causou mais estranheza foi a que envolveu ações ordinárias, pela falta de comunicado. A CVM foi responsável, por exemplo, por investigar a atuação da JBS, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, no caso da venda de ações da empresa e de negociação de dóares às vésperas do vazamento da delação envolvendo o presidente Michel Temer.
O fato de a CVM abrir uma investigação não quer dizer, necessariamente, que haja irregularidade identificada. Mas a trajetória de uma instituição cautelosa, que não se envolve em problemas desnecessários, indica que há motivos para uma apuração mais detalhada do caso das vendas de ações preferenciais (sem direito a voto) e ordinárias (que dão poder de decisão sobre o banco) realizadas nos últimos meses.
Os processos da CVM são lentos. Mesmo o rumoroso caso da JBS, aberto há quase um ano, ainda não chegou ao final. Caso detecte irregularidades no caso do Banrisul, a instituição não vai determinar desmonte da operação. As punições mais usuais da comissão são suspensão dos responsáveis ou cobrança de multa. Consultado sobre sua condução no caso, o Banrisul informou apenas que "ainda não foi notificado".