Uma das maiores empresas do Estado, a Celulose Riograndense vai suspender a produção nas duas unidades em Guaíba, em um dos mais gritantes exemplos da desarrumação da economia provocado pela greve dos caminhoneiros. A planta 1 parou no sábado e a 2, que recebeu investimento de R$ 5 bilhões, começou a adotar nesta terça-feira (29) o procedimento para interromper a atividade produtiva. Com a unidade é grande, são necessárias 48 horas até cessar totalmente a circulação. A perda é estimada pelo presidente da empresa, Walter Lídio Nunes, em 6 mil toneladas de celulose ao dia.
– Não está chegando madeira e não está chegando combustível – explica Nunes.
Mais do que a produção de celulose, para a produção de papel, de químicos e de energia, parte da qual vai para o sistema nacional de eletricidade. Os mil funcionários diretos da Celulose Riograndense não vão entrar em férias coletivas porque a parada requer mão de obra. Mas a cadeia de produção afeta 24 mil pessoas, ligadas direta ou indiretamente à atividade florestal, ao transporte e à prestação de serviços para a atividade, calcula o executivo. É mais um segmento completo com atividade desestruturada no Estado.
– Isso reflete o estado de coisas no Rio Grande do Sul e no Brasil. Achamos justa a movimentação, houve resposta à agenda deles, tudo totalmente compreensível e aceitável. O que não consigo entender é que, uma vez atingidos os objetivos, porque a sociedade continua sendo penalizada por conta de uma agenda política de minorias sectárias, com ideologia que desconstrói o país que precisamos construir. Estão colando bandeiras políticas em movimento que foi justo no seu início – desabafou Walter Lídio.
Na avaliação do executivo, as consequências da extensão do movimento vão além das que se veem nesse momento. Os desdobramentos, pondera, serão sentidos por muito tempo, porque as empresas enfrentarão problemas pelo impacto da falta de abastecimento:
– É totalmente injustificado. Vivemos em um país em crise. O que querem agora, aumentar a crise? Muitas empresas estão sofrendo perdas, será que isso não tem valor? Está atingindo todo o setor de celulose e papel, todas as fábricas estão paradas ou parando.
Além da atividade produtiva, argumenta Walter Lídio, há impacto para o Brasil como destino de investimentos estrangeiros. É bom lembrar que a Celulose Riograndense é controlada pela chilena CMPC:
– A imagem do Brasil fica extremamente comprometida, por insegurança jurídica e pela incapacidade de a governança pública gerenciar uma crise. A expectativa, agora, é de que o governo tome providências e restabeleça o direito constitucional de ir e vir. É preciso que o poder público tenha atitudes mais proativas e menos lenientes. O direito constitucional de uma categoria se manifestar está se sobrepondo ao direito de ir e vir das pessoas.