Quando o Citi, um gigante financeiro mundial, anunciou a decisão de vender a operação de varejo no Brasil, no ano passado, reforçou o debate sobre a dificuldade dos bancos estrangeiros no país onde poucas instituições têm lucros polpudos. Nesta semana, o vice-presidente de commercial banking (área que provê financiamento e outros serviços a empresas) do Citi, Antônio Rubens Almeida Neto, esteve no Estado avisando que sua área vai dobrar de tamanho e que o banco vai entrar com apetite no financiamento privado de longo prazo – ainda uma dificuldade no país. O executivo detalhou seus planos à coluna.
A mudança no Citi
Tomamos uma decisão estratégica sem relação com a economia do Brasil, que foi focar a área de varejo em 19 países. Aqui no Brasil, vendemos a rede de agências os cartões de crédito. Não vamos operar mais no consumo no Brasil, porque hoje o banco está no celular. Essa mudança tecnológica mudou o ambiente competitivo, e os bancos que vão ter sucesso no varejo precisam de escala. Como não tínhamos, vendemos, e bem, para o Itaú. Fechamos o negócio em novembro passado e vamos focar em banco corporativo. O Citi opera em 98 países com corporações, e o Brasil é o quinto no nosso ranking. É um banco de pessoa jurídica, de grandes e médias empresas. No Brasil, ficamos com três linhas: corporate investment banking, de médias e grandes empresas, commercial banking e private banking, de alta renda. O Brasil é muito importante para nós. Estamos aqui há 102 anos, somos o banco privado há mais tempo em operação no país.
Concentração bancária
No varejo, há bancos brasileiros competentes com rating e nível de eficiência comparáveis com os melhores do mundo. Com a base de clientes e a oferta de produtos que têm, é inegável que estão em escala muito difícil de alcançar. Preferimos focar no que vai dar melhor retorno. O país tem esse ambiente regulatório, competitivo e tecnológico que nos motivou a vender a área de varejo, mas na pessoa jurídica temos armas para operar de igual para igual com outros bancos do Brasil.
Financiamento de longo prazo
Fiquei dois aqui, e todos os clientes que recebi falaram de recursos a longo prazo. O país perdeu 7% do PIB entre 2015 e 2016, em 2017 recuperou um pouco. O empresário fez o dever de casa, reduziu custo, conseguiu mais eficiência, começa a apresentar balanços melhores agora, e está começando a olhar de novo para investimentos. Aí surge a necessidade de linha de longo prazo. O BNDES foi um grande provedor de recursos por um bom período, um dos maiores bancos de fomento do mundo, mas isso é insustentável. Os bancos privados podem, sim, cobrir esse tipo de necessidade. Queremos participar de investimento, entender a necessidade dos clientes. Temos produtos, taxas competitivas, prazos adequados. O empresário quer fazer o investimento e que ter tempo de maturar o investimento dele, de carência. O Citi tem toda condições de prover esse tipo de demanda. Temos empréstimos tanto em moeda local quanto em internacional, a taxas competitivas e prazos adequados para atender a essa demanda.
Bancos seletivos
Na crise, os bancos ficaram mais conservadores. A inadimplência e o desemprego cresceram, o consumo diminuiu, o ambiente não era favorável. A indústria financeira reduziu sua exposição. Nosso banco manteve os ativos de crédito no Brasil. Na área de commercial banking, crescemos 14% em 2016 e 16% em 2017. Vamos a área de commercial banking no Brasil, dobrar o número de gerentes e clientes. Estamos no caminho certo, o mercado brasileiro é extraordinário. Estive com um empresário do interior do Estado, de um grupo que existe há 55 anos, que representa no Brasil a maior empresa do mundo. O Citi não reduziu a presença no Brasil, só fez um reposicionamento estratégico.Temos diferenciais competitivos: somos o maior em câmbio, em custódia, em cash internacional do Brasil.
Repasse do corte de juro
Cada banco tem seu custo, embute o potencial de perda, de inadimplência, e seu ganho. O que aumenta ou diminuiu o spread é o custo operacional, inadimplência e ganho. Somos competitivos, porque temos um funding local que flui bem. Temos excesso de caixa aqui no Brasil, gostamos de trabalhar de forma conservadora, e no Exterior temos captação na a matriz, na linha que chamamos de cross border, bastante competitiva. Preço não é problema para nós. Corremos mais riscos no Brasil do que em países de Primeiro Mundo. O importante é que haja competitividade, que os bancos possam continuar irrigando a economia. Quando o empresário mostra que o Citi está emprestando dinheiro e provendo serviços para aquela empresa, o restante do sistema financeiro sabe que essa empresa é muito boa, porque somos muito seletivos.
Citi no Brasil
Temos um compromisso muito forte com o Brasil. Claro que ainda tem um ambiente político que vai ser definido em outubro, o que é relevante para dar segurança jurídica para o futuro. Não podemos esquecer que, seja lá quem for que assuma o poder, vai ter o voto da maioria dos brasileiros. Então temos de dar oportunidade de esse presidente eleito fazer as reformas que precisam ser feitas para entrar em nova fase. É dado que o Brasil vai crescer nesse ano algo como 2,4%. Se tivermos quatro anos com PIB crescendo a 3%, 3,5%, haverá forte geração de emprego, a economia se renova, empresários vão investir, entramos em um círculo virtuoso, ao contrário do que tivemos no passado. Acreditamos que os clientes vão demandar mais por conta dessa economia melhor, e estamos aqui para atender a essas demandas.