Era para ser o primeiro dia da história da nova Brasil Foods (BRF). A menos que a empresa faça uma milagrosa limonada, pode ter sido o início da maior crise da história da empresa. A Operação Trapaça, da Polícia Federal, evoca o tipo de coincidência que causa os desastres aéreos. Foi realizada no mesmo dia de uma decisão interna que definiria a saída de todos os atuais integrantes do conselho de administração. O assunto foi adiado para 26 de abril, enquanto as ações preferenciais perderam quase um quinto do valor (19,75%). O valor de mercado foi reduzido de R$ 25 bilhões para R$ 20 bilhões. Outras companhias do segmento também foram afetadas.
A BRF se originou da fusão de Sadia com Perdigão, resultado da crise de 2008/2009. Mais do que mirar em prevenção – concentrar mercado para crescer –, foi uma tentativa de sobrevivência em ambiente hostil. As duas, mas especialmente a Sadia, haviam apostado contra a alta do dólar. Grandes exportadoras que eram – a BRF manteve essa característica –, costumam negociar contratos de câmbio tanto na defensiva quanto de forma agressiva. São instrumentos conhecidos pelo nome genérico de “derivativos”.
O país crescia, o cenário parecia favorável, mas os gestores não contavam com o estouro da bolha global que respingou em produtos financeiros como os que negociavam.
A partir da quebra do banco Lehman Brothers, em setembro de 2008, o dólar entrou em espiral ascendente e provocou um buraco nas contas das duas empresas, especialmente nas da Sadia. A solução foi juntar fortalezas e debilidades para tentar construir o que deveria ter sido a “Ambev dos alimentos”, referência à empresa originada no grupo brasileiro Garantia – hoje 3G Capital –, que domina o mercado global de cerveja.
Até o nome foi pensado para isso: Brasil Foods (alimentos do Brasil). Infelizmente, não deu certo. Em 2016, a BRF teve o primeiro prejuízo desde sua criação. Foram R$ 372 milhões, valor que não inviabilizava a companhia mas acendeu um sinal de alerta sobre a gestão. No ano passado, a perda ganhou sinal vermelho, atingindo R$ 1,1 bilhão. Desse total, R$ 363 milhões foram atribuídos a perdas provocadas pela operação Carne Fraca, de suspensão de exportações a custos com a defesa no processo originado pela investigação.