A fusão da Sadia com a Perdigão teve origem na crise de 2008/2009. Mais do que mirar em prevenção – concentrar mercado para crescer –, foi uma iniciativa de correção de um problema agudo. As duas empresas, mas especialmente a Sadia, tinham apostado contra a alta do dólar. Eram e são grandes exportadoras que costumam negociar contratos de câmbio, ora de forma defensiva, ora de forma agressiva. São produtos conhecidos pelo nome genérico de "derivativos".
O país crescia, o cenário parecia favorável, mas os gestores não contaram com o estouro da bolha global que respingou em produtos financeiros como os negociados pelas duas companhias. A partir da quebra do banco Lehman Brothers, em setembro de 2008, o dólar entrou em espiral ascendente e provocou um buraco nas contas das duas empresas, especialmente na Sadia.
A solução foi juntar fortalezas e debilidades para tentar construir o que era apresentados como a "Ambev dos alimentos", referência à empresa originada no grupo brasileiro Garantia – hoje 3G Capital –, que atualmente domina o mercado internacional de cerveja. Infelizmente, não deu certo. O nome foi pensado nessa direção: Brasil Foods (alimentos do Brasil), ou BRF.
Em 2016, a BRF teve o primeiro prejuízo desde sua criação. Foram R$ 372 milhões, um valor que não inviabilizava a companhia mas acendeu um sinal de alerta sobre a gestão. No ano passado, a perda ganhou escala de sinal vermelho, atingindo R$ 1,1 bilhão. Desse total,
R$ 363 milhões foram atribuídos a perdas provocadas pela operação Carne Fraca, de suspensão de exportações a custos com a defesa no processo originado pela investigação.
O tamanho do novo prejuízo gerou crise entre acionistas. Fundos ligados ao governo federal – Petros, da Petrobras, e Previ, do Banco do Brasil – pediram a convocação de uma assembleia geral extraordinária que teria como proposta a saída de todos os atuais integrantes do conselho de administração. Em uma dessas coincidências que marcam grandes desastres, a reunião estava marcada para esta segunda-feira (5), mesmo dia em que a nova fase da Operação Carne Fraca foi deflagrada. Diante dos novos impactos de imagem e de perdas para a empresa, é possível prever que esta será a maior crise da história da BRF. No início da tarde, muitas horas depois do início da operação, as ações ordinárias da ex-candidata a Ambev dos alimentos caíram mais de 16%.