As perdas de 10,59% das ações da JBS e de 7,25% nas da Brasil Foods (BRF) que se seguiram à Operação Carne Fraca nesta sexta-feira são apenas o começo da erosão de valor cuja profundidade ainda não se conhece. O impacto na bolsa de valores foi forte, mas essas quedas devem ser apenas o aperitivo de um churrasco indigesto. Por envolver empresas bem posicionadas no mercado internacional – até a sexta-feira –, a descoberta da investigação chamuscou imagem e marcas até então consideradas referências mundiais de qualidade.
Se a confiança já era prato raro na economia brasileira, o episódio só contribui para torná-lo ainda mais escasso. Mesmo que aponte número limitado de casos, a investigação tem poder de fogo para afetar o consumo interno, pela incerteza dos consumidores sobre a qualidade do produto, e externo, pela dúvida dos importadores a respeito do mesmo aspecto. Para ficar em apenas um exemplo, o site em inglês da BBC, principal emissora de TV britânica, informava ontem que "gigantes brasileiras da produção exportavam carne podre". Citando as duas maiores empresas, JBS e BRF, informava que estão sob acusação de "práticas não higiênicas".
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O setor de produção de carne no Brasil passou por uma concentração acentuada. A BRF é resultado da fusão de Sadia e Perdigão. A JBS comprou concorrentes até virar "a maior produtora de proteína animal do mundo", como se intitula. Uma das justificativas, além do interesse econômico, era assegurar boas práticas sanitárias. Em vez de garantir a qualidade dos produtos em comunicados, as empresas deveriam se comprometer a rever processos e apertar a vigilância.