Depois de o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ter afirmado que discute com a Petrobras uma nova política de reajuste de preços dos combustíveis, a Petrobras informou, em nota, que tudo segue como está. Na manhã desta terça-feira (6), em entrevista à rádio CBN de Ribeirão Preto, Meirelles disse que a mudança seria só questão de tempo:
– Tão logo tenhamos uma nova política de preços definida, nós vamos anunciar.
A coluna consultou a estatal sobre os próximos passos da discussão, e a resposta foi " a Petrobras continuará ajustando o preço da gasolina e do diesel em suas refinarias diariamente conforme as variações nas cotações internacionais do petróleo". A estatal detalha que "o governo federal consultou recentemente a Petrobras acerca do comportamento dos preços no mercado internacional de petróleo, quando registrou preocupação com a volatilidade dos preços para o consumidor final". Mas sustenta que "em nenhum momento se cogitou qualquer alteração nas regras atualmente aplicadas pela companhia, que são de sua exclusiva alçada".
Conforme a Petrobras, na formação do preço final ao consumidor, a parcela da refinaria representa menos de 50% do preço final do diesel e menos de 33% no da gasolina. Por isso, pondera que "qualquer medida cujo objetivo seja o de reduzir a volatilidade deverá alcançar os demais componentes do preço, sendo que o principal deles é a carga tributária, federal e estadual".
Uma resposta tão rápida e assertiva da Petrobras sobre uma declaração ministerial é pouco usual. Dá sinais de falta da alinhamento no discurso com a Fazenda. Embora de fato o ministério não tenha "alçada" sobre a fixação de preços, explicitar o fato é, no mínimo, pouco diplomático. Sugere algum tipo de ruído entre o ministério e a estatal.
Além do excesso da frequência dos repasses, o que fez muitos brasileiros perderem a referência do preço da gasolina, a nova política de preços da Petrobras coincidiu com uma fase de escalada na cotação internacional do barril de óleo cru. Como é a matéria-prima dos combustíveis, elevou o parâmetro da estatal para fixar seus preços no Brasil.
Até especialistas geralmente simpáticos à estratégia de flutuação de preços conforme o mercado protestaram. A pressão era tanta que, a poucos dias, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, deu uma declaração pouco usual para seu estilo. Afirmou que a resposta para o alto preço da gasolina no Brasil "não está na Petrobras". Por mais que Parente esteja certo – a responsabilidade pela elevação está no crescente preço do petróleo –, a estatal exagerou na dose. Agora, o governo entendeu que, se a estratégia ajuda a empresa, atrapalha a vida do cidadão.
Montadoras acionam pisca-pisca na produção industrial
Como a indústria automotiva foi o motor da arrancada no final de 2017 e engatou marcha à ré no início deste ano, acionou o pisca-pisca em todo o setor produtivo. Divulgados ontem, resultados da produção industrial de janeiro e da velocidade nas montadoras em fevereiro ainda se comunicam, mesmo em períodos diferentes.
Depois do forte crescimento (3,1%) em dezembro frente a novembro, a produção industrial recuou 2,4% em janeiro sobre o mês anterior. Na origem desse “comportamento errático”, como classifica o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi), estão as montadoras. Na avaliação da entidade, o setor fabril “não achou ainda um padrão de crescimento regular, de modo que toda alta mais expressiva acaba não tendo continuidade”.
Após a alta expressiva de 9,1% em dezembro, a fabricação de veículos caiu 7,6% em janeiro. O cálculo elimina o chamado efeito sazonal, provocado pela variação típica do período do ano. Dessa forma, o estímulo às vendas de final de ano determinado por pagamento de 13º salário e bônus, por exemplo, não entra na conta.
A indústria vai a reboque do segmento automotivo porque demanda produção de outros ramos, como metalurgia, borracha, plástico, além de equipamentos de informática e produtos eletrônicos, que recheiam veículos.
Em fevereiro, o recuo de 2,1% na comparação mensal é resultado da menor quantidade de dias úteis. Ou seja, neste caso não parece haver risco de a retomada enguiçar. Mas o pisca-pisca ligado sugere que falta pavimentação na pista para sustentar uma velocidade mais alta.