Mais um dos balões de ensaio do governo Temer atravessou o samba. Na sexta-feira, vazou um estudo para voltar a subsidiar o preço do gás de cozinha, que subiu 19% em 2017, seis vezes mais do que a inflação oficial. Pela duração, foi mais uma bolha de sabão. Poucas horas depois, abandonou a fantasia do subsídio e se inclinou pela alegoria de um possível reajuste antecipado no bolsa-família para compensar a disparada do GLP.
Como as histórias cantadas em samba-enredo, o Planalto parece avaliar a sério a candidatura de Temer. Deve ter percebido, em pesquisas, o dano que sucessivas subidas de preço do GLP fizeram a sua imagem. Agora, procura um abre-alas que permita encarar o Brasil da Quarta-feira de Cinzas.
Outro candidato a candidato, Henrique Meirelles, por ora ministro da Fazenda, afirmou, ao comentar os estudos: “O que existe é uma preocupação com a variação grande do preço do gás de cozinha”. Pronto, descobriram. Quando a Petrobras anunciou o fim do subsídio, há pouco menos de um ano, a escalada do preço já havia começado. Mas alcançou níveis insustentáveis depois disso.
Subsídio, na atual situação das contas públicas brasileiras, é uma fantasia. Inclusive porque, com impostos regressivos – quem ganha menos paga proporcionalmente mais –, quem seria beneficiado acaba ajudando a arcar com o custo do incentivo. A manutenção do preço do gás de cozinha por anos a fio ajudou a abalar as finanças da Petrobras, roídas nos dutos do petrolão.
Entre subsídios mantidos por anos a fio e uma política de preços empregada com sucesso em países de economia com outro nível de estabilidade, como os Estados Unidos, há muito espaço. A desculpa é que a Petrobras pode ter escolhido um mau momento: passou a aplicar repasses imediatos em fase de alta no preço do petróleo.
Se governos anteriores erraram em usar combustíveis, aí incluído o GLP, como moeda eleitoral, a Petrobras se equivoca ao apostar que seria possível transmitir sem filtros nem reações o vaivém das cotações internacionais num país mergulhado em crise. Ficou fora da realidade nacional a pretensão de importar a política de preços de países desenvolvidos. Nos últimos anos, o Brasil se afastou dessa ala, em vez de se aproximar.