Correção: as empresas de Flávio Rocha já quitaram R$ 900 milhões dos empréstimos de R$ 1,3 bilhão obtidos no BNDES. A informação já está corrigida no texto. Na entrevista à coluna, o empresário realmente fala em "R$ 900 mil", porém, em novo contato, esclareceu que se tratam de R$ 900 milhões.
Desde que lançou o movimento Brasil 200 Anos, no final de janeiro, o empresário Flávio Rocha, CEO do grupo Guararapes/Riachuelo, tem de explicar por que defende o Estado mínimo depois de obter financiamento de R$ 1,3 bilhão do BNDES. Nessa segunda-feira (5), antes de sua palestra no Porto Alegre Country Club, a convite do Lide-RS e do Instituto de Estudos Empresariais (IEE), reafirmou à coluna que o objetivo do movimento Brasil 200 Anos é um país sem bancos públicos como o BNDES.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista:
Relação com o BNDES
O BNDES é uma máquina de tirar de quem sabe fazer e dar para quem sabe conversar. Ele teve seu papel até determinado momento, e seria um desserviço à minha região, o Nordeste, não recorrer a essa ferramenta que chega a representar até 2% do custo de capital, isso nos tempos áureos. Quando me referi ao BNDES de Roberto Campos e do abuso do banco, a diferença entre o remédio e o veneno está na dose. Em boa parte de sua história, a instituição foi um instrumento importante de desenvolvimento regional e de infraestrutura. Os R$ 1,3 bilhão que tomamos em empréstimo há 10 anos geraram 60 mil empregos diretos e 200 mil nos fornecedores. Desse montante, R$ 900 milhões já foram devolvido com juros.
Na semana passada, aprovamos o orçamento desse ano e o BNDES ficou completamente fora de nossos investimentos porque os bancos privados foram mais competitivos. Já é o terceiro ano em que temos zero BNDES. A política dos campeões nacionais é o extremo da arrogância do Estado. No modelo ideal que nós imaginamos, quem escolhe os campeões nacionais é o mercado, através da democracia mais perfeita que existe, que é o livre mercado, onde todos votam, não o Estado intervencionista, de cima para baixo, escolhendo quem vai ser o campeão de proteína animal, de óleo e gás.
Existem, apesar da diversidade de partidos e projetos, demandas muito evidentes do eleitor brasileiro que não são atendidos no espectro partidário e das candidaturas.
O BNDES hipertrofiou nesse período, em decorrência, também, do crescimento do Estado. O BNDES deveria voltar à sua raiz de ação pontual, de infraestrutura e desenvolvimento regional, não seria um BNDES do Foro de São Paulo ou dos campeões nacionais. Essas são as duas grandes situações do BNDES que afastaram a instituição do seu propósito original. O objetivo é chegar ao Estado mínimo, onde a alocação de recursos fosse feita integralmente pelo mais sábio alocador de recursos, que é o livre mercado. Inclusive bancos estatais já estão fora do modelo ideal de modelo mínimo e do modelo de livre mercado, onde não existiria nenhum banco estatal, nem de varejo, muito menos banco de desenvolvimento.
Candidatura
Não, não estou em nenhum projeto eleitoral. Nosso objetivo é fazer o diagnóstico de lacunas inexplicáveis no debate político. Existem, apesar da diversidade de partidos e projetos, demandas muito evidentes do eleitor brasileiro que não são atendidos no espectro partidário e das candidaturas.
A mais evidente, e que talvez deflagrou o movimento, é a inexistência de um candidato óbvio, que é aquele que concilia um contraponto da política econômica do governo anterior, um projeto que fosse liberal na economia, mas que fosse um contraponto na questão dos costumes e dos valores. Estamos assistindo às combinações exóticas de candidato à direita na economia e à esquerda nos costumes, e vice-versa, mas um candidato à direita na economia e à direita nos costumes, que seria o contraponto óbvio ao triste período que tivemos recentemente, não se apresentou.
Vice de Bolsonaro
Tenho uma relação pessoal com o deputado Jair Bolsonaro. Ele é combatido justamente pelo que tem de bom, pelo discurso. Ele é o único candidato que está atendendo a essas demandas do eleitor, que é algo que contrapõe a desordem, que foi a tônica da prática dos costumes e dos valores.
Houve uma erosão de valores que se confundem no período recente da história, algo até intencional e que é abordado por alguns autores que acham que é necessário primeiro deteriorar os valores básicos da sociedade para construir uma sociedade nova por cima. O Bolsonaro, intuitivamente, se contrapõe a isso, é o único que está se libertando das amarras do politicamente correto.
Não sou candidato e existem diferenças na questão fundamental, que é a da economia. Um pré-requisito é um alinhamento com as reformas. As reformas são imprescindíveis, não há como se imaginar um futuro presidente que não esteja preparado para realizar as reformas.
Movimentos empresariais
A grande diferença (do nosso movimento) é o formato de como fazer. Esse movimento, em 10 dias, já tem 130 mil seguidores no Facebook. Não vejo nenhuma similaridade de propósitos. Primeiro, que temos um lado. Iniciativas semelhantes visam equipar intelectualmente candidatos independente de partido e de ideologias. Nós, não. Achamos que não adianta apenas aparelhar intelectualmente candidatos de todos os lados. É mais ou menos como você preparar bons soldados e mandar metade para o Estado Islâmico, metade para a ONU e vai ter bons resultados.
Vamos decidir, talvez com 50 ou 60 anos de atraso, se queremos um país com protagonismo no Estado ou no indivíduo. Essa decisão é fundamental.
Vamos decidir, talvez com 50 ou 60 anos de atraso, se queremos um país com protagonismo no Estado ou no indivíduo. Essa decisão é fundamental. Quem decidiu certo anos atrás, está no primeiro mundo, com economias próprias. Estamos postergando essa decisão, mas não temos tempo a perder. Temos de decidir nessa eleição que tipo de país queremos: nos modelos de tudo que deu errado até hoje, ou vamos adotar a única fórmula de prosperidade que se conhece, que é o binômio democracia e livre mercado.
O objetivo final do movimento é incidir na agenda, existem omissões nas agendas, temas que estão evitados inexplicavelmente. Estamos sendo contatados por vários candidatos e partidos. Um deles é Jair Bolsonaro, mas existem outros partidos. Não temos nos furtado.