No comando de um dos maiores conglomerados do país, formado por Riachuelo e Guararapes, Flávio Rocha abandonou a política – foi duas vezes deputado federal pelo Rio Grande do Norte –, mas não o discurso um tom acima da média de seus pares. Em setembro do ano passado, puxou o coro empresarial pró-impeachment. No ano passado, a Riachuelo dobrou o número de lojas em Porto Alegre e vai abrir outra, no Iguatemi, mas o presidente da empresa avisa que reduzirá o ritmo para preservar o caixa.
– Toda crise é passageira, mas não sabemos quanto tempo teremos de prender o fôlego.
Você foi um dos primeiros empresários a se manifestar a favor do impeachment. Enfrentou mais críticas ou elogios?
Na época, setembro do ano passado, a possibilidade de impeachment era muito incipiente. Eu apontei a falta de liderança mínima da presidente para reconduzir o país para fora dessa situação, a falta de projeto, de propósito. A situação era muito difícil, mas no meio empresarial ninguém havia se manifestado. As críticas foram maiores dentro da empresa, as pessoas ficaram apreensivas. Agora, é o fim do ciclo do protagonismo do Estado, a fórmula do fracasso. O novo ciclo tem o protagonismo da empresa privada, o binômio da prosperidade, que é democracia e livre mercado. Isso pressupõe mais protagonismo do empresariado. Porque, senão, dá sensação de que você está dando um salto no escuro, tira esse Estado mastodôntico, hipertrofiado, e coloca o que no lugar? O empresário precisa sair da toca. É fundamental que saia de sua zona de conforto e coloque seus projetos. Esse novo ciclo pressupõe muitos projetos de empreendedorismo, que dá à opinião pública o conforto de que vai tirar esse Estado anacrônico, ineficiente e até corrupto, mas vai colocar alguma coisa no lugar. A recuperação seria lenta se a gente tentasse reformar o Estado. Esse Estado é uma sucata irrecuperável. É como se fosse o porta-aviões Minas Gerais, tomado de ferrugem por todos os lados, fazendo água, com vazamento de óleo, instrumentos da II Guerra. Não se trata de trocar a tripulação, seria uma tarefa hercúlea e inglória. Mesmo se reformasse, seria um navio obsoleto. Se trata de um novo projeto de Estado, mais leve, mais eficiente. Por isso, a retomada será mais rápida do que se imagina.Você também já disse que, sem a presidente Dilma, os investimentos voltariam instantaneamente. Estão mais perto?Sem dúvida, porque a Dilma personifica esse modelo fracassado, estatizante. É o capitalismo do mal, de conluio. A opinião pública está começando a entender que existem duas formas, dois animais completamente diferentes, que são o capitalismo de mercado e o capitalismo de conluio, que é o subproduto nefasto do Estado inchado, o empresário que vive das tetas do governo. Não vive da eficiência, de fazer mais com menos. Vive de dar propina para a pessoa certa. Esse capitalismo cresceu de forma desmesurada.
De que os empresários mais precisam neste momento?
O investimento saudável do capitalismo de mercado procura o bom ambiente de negócios. A preocupação número 1 do próximo ciclo deve ser proporcionar um bom ambiente de negócios, ou seja, cuidar da floresta, não dos animais. A função do governo é garantir o ecossistema, a floresta.
Qual será o desafio mais importante de um novo governo?
Um futuro presidente tem de pegar aquela lista do Doing Business, do Banco Mundial (ranking sobre facilidade de fazer negócios), em que estamos em um humilhante 116º lugar, perto de Venezuela, Coreia do Norte. É a questão de honra para o governo colocar a gente entre os melhores ambientes de fazer negócio. Por que isso é fácil. Carga tributária, eu compreendo, existem gastos muito grandes do governo que a impõem, mas a burocracia irracional, a complexidade do sistema fazem um jogo de perde-perde. É isso que traz o investimento. Quando o mercado mundial perceber que o governo vai diminuir a hostilidade com que o governo trata o investidor, vai se ver uma enxurrada de investimento para cá que nos tira dessa situação mais rapidamente do que se imagina. É só ver a volta da Argentina ao mercado global, a percepção que o mundo está tendo que o ambiente de negócios melhorou.
A Riachuelo vai manter a expansão agressiva?
O plano era muito agressivo, a meta era duplicar a rede de lojas em cinco anos, iria quase triplicar as vendas. Mas revisamos. Tivermos um recorde de inagurações em 2014, com 80 mil metros quadrados, um recorde de investimento em 2015, com R$ 500 milhões, mas em 2016 desaceleramos porque a prioridade agora é proteger o caixa, porque não se sabe quanto tempo vai levar a crise. Toda crise é passageira, mas a gente pode ter de prender a respiração por mais tempo.
Em Porto Alegre, a rede mais do que duplicou?
Tínhamos três e, no ano passado, abrimos três em um dia. Agora, vamos abrir a loja do Iguatemi, que o último estágio de evolução. Será uma loja minimalista, em que o protagonista é o produto. Temos todos os recursos tecnológicos, será uma das mais bonitas. E vamos abrir no dia do lançamento da coleção assinada por Karl Largfeld.
A Riachuelo é considerada uma rede popular, mas está apostando em grifes. Por quê?
A faceta mais ousada e bem sucedida da nossa estratégia é ter desafiado frontalmente esse conceito de segmentação. É a primeira aula de marketing, você precisa escolher se quer vender para o topo ou a base da pirâmide. Nosso modelo colhe sinergia da indústria e do varejo, duas coisas fundamentais para democratizar a moda, com baixo custo e velocidade de reposição. A gente consegue oferecer 35 mil modelos por ano. A Zara tem 18 mil ou 20 mil. Isso significa cem lançamentos por dia. Leva só 10 dias entre a fábrica e a loja, dá uma sensação de frescor e de variedade.
O grupo também tem indústria de confecção. É fato que a alta do dólar está reduzindo a importação da China?
Sim, é fato. Temos operação em Xangai há alguns anos, mas a tendência é de que diminua a participação de produtos importados, que chegou a 35%. Isso aumenta a participação do produto nacional, o que é muito bom para a gente, aumenta a participação da produção própria. Tem essa vantagem da velocidade de lançamento. A gente começa a estação fazendo uma aposta menor em cada item, mas tem a habilidade de identificar os campeões de vendas. A gente coloca a estrutura de produção para repor itens que vendem mais.