Na programação oficial do Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, estão marcados dois eventos com o presidente do Brasil, Michel Temer. Ambos para o dia 24. É, no mínimo, uma curiosa coincidência. Se tudo correr como previsto, nesta data se conhecerá a decisão do TRF4 sobre a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A história dos dois está associada para o bem e para o mal.
O primeiro compromisso de Temer será uma palestra especial, às 10h25min nas montanhas alpinas e 7h25min no Brasil. Às 17h (14h no Brasil), haverá uma entrevista coletiva. O objetivo da presença em Davos, como antecipou o ministro Moreira Franco, é anunciar ao mundo do dinheiro que “o Brasil voltou”. Na coletiva, que reverbera a mensagem, terá meia hora para convencer os interlocutores. Às 17h30min (14h30min no Brasil), está marcada a palestra especial do líder sensação deste ano, que também faz sua estreia: Emannuel Macron, presidente da França.
Macron tem lá seus problemas, mas certamente não deu, pouco antes de viajar, entrevista na qual afirma não querer sair da Presidência com “pecha de um sujeito que incorreu em falcatruas”. Temer levará, no bolso do sobretudo bem cortado, os primeiros sinais de que o Brasil “voltou”, de fato. Mas além de flocos de neve, a “pecha de falcatrua” rondará sua imagem. Na antevéspera, terá dado posse – se nada mais mudar – a uma ministra do Trabalho condenada por quebrar as regras pelas quais deverá zelar no cargo.
No Brasil do “não dá nada”, é apenas um detalhe. Mas no seleto clube que move a economia mundial, não é um comportamento aceitável. Isso não quer dizer que só circulem em Davos seres de currículo imaculado, longe disso. Mas a grande maioria sabe que “pechas” não surgem do nada. E atua com rapidez para se afastar – ou desconectar, quando tarde demais – de “falcatruas”.
Desde a crise global de 2008/2009, que teve seu auge nesses anos, mas arrastou uma recuperação tão lenta quanto a do Brasil de 2017/2018, Davos assistiu a uma mudança de padrões e de temas. Na mesma data da participação do presidente às voltas com uma ministra do Trabalho que não cumpre leis trabalhistas, haverá um painel sobre “a luta para acabar com a escravidão”. Confortável, só o sobretudo.