Foi preciso que o Banco Central (BC) constrangesse o Planalto, recomendando o afastamento de quatro vice-presidentes da Caixa Econômica Federal para que os investigados pela Polícia Federal e em sindicâncias internas saíssem – temporariamente – dos cargos. A instituição financeira no olho do furacão desta semana que envolve o Planalto é a única com ativos – volume de recursos que administra – acima de R$ 1 trilhão sem um sistema reconhecido de gestão profissional.
Ainda assim, recebeu sanção presidencial no início do mês para receber até R$ 15 bilhões do FGTS. O objetivo é garantir que mantenha o nível mínimo de capital próprio em relação aos financiamentos exigido pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS, considerado o banco central dos bancos centrais), ou seja, não está alinhada.
– Quando se olha para a Caixa, existe nebulosidade em relação à governança corporativa – afirma João Augusto Salles, especialista em setor bancário da Lopes Filho Consultores de Investimentos.
Na avaliação de Salles, a Caixa embute um risco de imagem superior a outros grandes bancos porque as indicações políticas vão até cargos "de execução", ou seja, operacionais. Outra grande instituição pública, o Banco do Brasil, tem ações no mercado. Isso exige um tipo de prestação de contas ao qual a Caixa não está submetida. No ano passado, uma oferta de ações da instituição fundada por Dom Pedro II esteve no radar do mercado, mas foi adiada porque o momento não era favorável, depois descartada.
Na visão mais benigna, o governo quer manter a indicação de cargos em troca de apoio político à reforma da Previdência, como observa Salles. Considerada reduto da influência de Eduardo Cunha, parece ter sido moeda também para outros tipos de troca. Entre 2011 e 2015, teve um buraco de quase R$ 35 bilhões provocado por desembolsos a programas sociais, como Bolsa Família, seguro-desemprego e abono salarial sem repasses do Tesouro, no episódio das pedaladas fiscais de Dilma Rousseff. Passou da hora de abrir a Caixa Preta Federal.