Fundada em Passo Fundo, a BSBios já passou por várias fases. Fruto do investimento de um grupo de empresários da região, foi comprada pela Petrobras e incorporada à subsidiária Petrobras Biocombustíveis (PBio), em operação investigada pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Desde 2014, pertence apenas à PBio e à RP Biocombustíveis, de Erasmo Battistella, também presidente da Associação os Produtores de Biodiesel do Brasil (Aprobio). Na quinta-feira à noite (14), a Petrobras anunciou a intenção de vender sua fatia de 50%. No início da tarde desta sexta-feira (15), Battistela afirmou que tem intenção de exercer seu direito de preferência, ou seja, comprar a parte da estatal. Até já contratou uma reconhecida instituição financeira, o Itaú BBA, para fazer a intermediação do negócio. A empresa emprega 360 pessoas e, em 2016, faturou R$ 2,6 bilhões.
A Petrobras consultou antes de fazer o aviso público?
Sim. Quando a Petrobras, em 2015, tomou a decisão de desinvestir em várias áreas, entre as quais a de biocombustíveis, passou essa informação. Também avisou que a saída se daria por meio do cumprimento de todas as exigências de uma estatal e respeitando o acordo de acionistas.
O acordo de acionista prevê direito de preferência?
Sim, o direito de preferência, de tag along (preço igual para todos os tipos de acionistas) e uma série de outros compromissos.
A RP pretende exercer o direito de preferência?
O que posso dizer hoje é que eu vou ter de exercer ou não o direito de preferência ao final do processo. Não sei se vai demorar três, quatro, cinco ou seis meses. É lá que tenho de me pronunciar se exerço ou não. Hoje, posso dizer que tenho interesse de exercer direito de preferência e estou trabalhando para isso. Contratei o Itaú BBA como meu adviser financeiro, e estamos trabalhando com esse horizonte. Como é uma decisão que vai ocorrer entre no mínimo três e máximo seis meses, imagino, é impossível afirmar hoje com precisão. Mas sim, tenho interesse de exercer esse direito de preferência.
A ideia é de que o Itaú BBA só represente a RP ou busca, de alguma forma, apoio de mercado para exercer esse direito?
Estamos avaliando várias possibilidades. É uma decisão ligada ao montante de investimento, ao momento de mercado. Busquei essa assessoria do Itaú BBA porque é um dos bancos de investimento mais renomados do Brasil e da América e tem uma visão de negócio muito ampla, então a assessoria é nesse sentido, para que se faça um negócio bem estruturado e bem compreendido pelo mercado nos meses seguintes.
Isso não descarta outros sócios?
Nesse momento, um empresário inteligente tem de olhar todas as possibilidades. Meu interesse número 1 é exercer o direito de preferência. Como vai ser construído vai depender do andamento do processo. É impossível responder isso hoje. É importante dizer que a BSBios vai somente observar o processo. Quem vai consolidar é a Petrobras. Aqui, vamos continuar tocando a operação no dia a dia, comprando soja, produzindo biodiesel. Acabamos de aprovar o orçamento para 2018 com melhorias operacionais. Isso é importante porque há muitas pessoas que dependem da empresa, trabalham com a gente. Estamos mostrando que a empresa segue seu rumo normal.
Qual é a estrutura de gestão da BSBios?
Atualmente ocupo o cargo de presidente-executivo, sou CEO da empresa, e tenho mais três colegas na diretoria. Um é diretor comercial, indicado pelo sócio RP. O diretor industrial e o admistrativo-financeiro são nomeados pela PBio.
Como se comporta o mercado de biodiesel?
No ano passado, a BSBios fez um desinvestimento, vendeu as unidades de originação para a Cotrijal e com isso conseguimos melhorar indicadores e resultados. O mercado de combustíveis em geral caiu 5,1% em 2015 e 4,4% em 2016, por conta da crise econômica. Em 2017, o volume não caiu, até cresceu cerca de 0,5%. No biodiesel, neste ano conseguimos recuperar parte do mercado porque entrou a mistura de 8% (no óleo diesel) em março. Mas o volume ainda é abaixo do esperado. Em março de 2018, entra a mistura de 10%. Vai ajudar, mas não resolve os problemas de médio e longo prazo, porque o B10 (mistura de 10% de biodiesel no óleo diesel) só vai reduzir a ociosidade, que está em torno de 30% a 35%. E há várias fábricas de biodiesel fechadas no país. Nos últimos leilões, a empresa de Cachoeira do Sul não ofertou, de Ijuí também não. Existe muita capacidade ociosa para retomar. Agora, falando como presidente da associação, estamos provocando o governo federal para poder discutir sobre o futuro. Em 2018 entram os 10%, e como fica depois? No mercado de energia, precisamos nos programar.
Não existe um limite?
Seria 100%, mas as montadoras estão fazendo testes para validação de 10%, 15% e 20%. Se for aprovado no ano que vem, podemos subir até 20%. Para isso precisa política pública. A mistura é obrigatória, se está na lei, põe, se não está, não põe.
O aumento no preço do diesel ajuda ou atrapalha?
O que está havendo agora é a justiça, porque o biodiesel sempre foi vendido a preço de mercado, nunca foi tabelado (na prática, reajustes muito espaçados) como o diesel era. Com a política de preços livres da Petrobras, diesel e biodiesel estão precificados a mercado, têm a mesma regra, assim como o etanol. Muitas empresas do Brasil pediram porque o preço de diesel e de gasolina eram bem controlados, e o de diesel e biodiesel estavam com o valor do mercado. Principalmente no período da safra, o biodiesel está mais barato que o diesel em diversas regiões. Mas é preciso observar o esforço que o Brasil faz para atingir as metas de emissão de gases do efeito estufa, e sem o biodiesel não vai atingir.
Qual o estágio da investigação no Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o suposto superfaturamento na venda das unidades da BSBios para a Petrobras?
Não tenho informações, nunca tive. Houve uma auditoria interna dentro da Petrobras, nunca fomos chamados a dar explicações sobre o tema, então só quem pode se pronunciar sobre isso é a Petrobras.
Vocês patrocinam um time de futebol em Passo Fundo?
Patrocinamos time de futebol, de vôlei, da Apae, as meninas que dançam no ballet. Somos a maior empresa da região, então todo ano a gente destina uma verba para a comunidade. Temos papel social muito forte, compramos matéria-prima de 15 mil famílias da agricultura familiar, temos responsabilidade como empresa na região. Nós ajudamos o Gaúcho aqui. Estamos funcionando com normalidade. Um sócio disse que tem vontade de sair do setor e vai colocar suas ações à venda. É importante que se diga que, ao final do processo, pode ser que não saia. Se não achar que o valor é suficiente, pode ser que continue sócio.