A julgar pela reação do mercado, a crença de investidores e especuladores na aprovação da reforma da Previdência é limitada. Apesar dos anúncios confiantes e palavras de efeito – o presidente Michel Temer chegou a falar em “apoio extraordinário para reformas extraordinárias” – bolsa e dólar mal se mexeram nesta quinta-feira (23). No day after do jantar com presença igualmente restrita, o clima dominante ainda não é de confiança, mas de ceticismo esperançoso.
Mesmo empresários entusiasmados com a possibilidade de aprovação ao menos em 2018 preocupam-se com o custo dos votos necessários para que a proposta de emenda constitucional passe no Congresso. Se o Planalto já ficou com pouca folga para adiar a apuração da segunda denúncia contra Temer, obter 308 votos na Câmara – os três quintos exigidos para aprovar PECs – talvez não seja tão simples.
Bem que o governo tentou a via do convencimento racional, levando o economista Marcos Lisboa, conhecido por sua intensidade ao descrever as mazelas decorrentes da inação.
A dúvida é se os ouvidos seletivos dos parlamentares seriam sensíveis a argumentos de Lisboa e outros defensores das reformas de linha lógica.
Alguns responsáveis por gestão de grandes carteiras chegam a exercitar o cálculo de probabilidades para situar entre 20% e 30% as chances de a reforma da Previdência ser aprovadas antes das eleições do próximo ano. Há quem acredite no rolo compressor.
O próprio Lisboa advertiu, recentemente, que o fato de o Estado não caber mais no país não é responsabilidade pública, mas da sociedade, que o economista vê como “autoritária e intervencionista”. Mas o economista, apesar do tom exasperado, também exerce certo otimismo. Afirma que, atualmente, vê um país diferente do que existia há quatro anos.