A publicação do balanço de 2016 da Odebrecht neste mês permite montar um quadro do quanto a recessão na economia brasileira e os efeitos da Operação Lava-Jato afetaram os negócios das maiores empreiteiras do país. Juntos, os braços de construção pesada da líder nacional do setor e de suas principais concorrentes – OAS, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e Galvão Engenharia – somaram faturamento de R$ 61,4 bilhões em 2014, quando vieram à tona os casos de corrupção que envolviam a Petrobras. No ano passado, chegaram a R$ 33,2 bilhões, queda de 46% nos negócios.
Vale lembrar que o levantamento feito pela coluna não é 100% preciso devido aos critérios de cada grupo. Enquanto a maior parte publica seus balanços levando em consideração receita bruta, Andrade Gutierrez e Galvão Engenharia usam a líquida. Também não foram levados em conta os negócios em outras áreas, que em muitos casos tiveram de ser vendidos para os controladores fazerem caixa e retomar fôlego.
O estrago também não foi igual em todas as empresas. A Queiroz Galvão, por exemplo, viu sua receita cair apenas 17% nestes dois anos. O faturamento da Odebrecht encolheu cerca de um terço. OAS e Camargo Corrêa perderam mais da metade dos negócios. O maior tombo, de mais de 90%, foi o sofrido pela Galvão Engenharia.
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A crise das empreiteiras, fruto da paralisia da economia e do envolvimento em casos de corrupção, também levou empresas como OAS e Galvão Engenharia à recuperação judicial. A medida, que protege a companhia da cobrança de dívidas enquanto tenta se reestruturar, pode ser adotada por outras empreiteiras da lista. Também integrante do cartel descoberto dois anos atrás, a UTC decidiu semana passada tomar o mesmo caminho. Mais voltada à área de petróleo e gás, a empresa não tem como principal negócio a construção de estradas, hidrelétricas e projetos de infraestrutura, como as demais. Não têm disponíveis informações financeiras e não atendeu o pedido da coluna para informar os dados.
Chegou ao fim a era de crescimento acelerado. Não pipocam mais obras de rodovias, usinas, refinarias e estádios a preços superfaturados. O crédito secou. Como o investimento deve ser um dos pilares da reação da economia e a infraestrutura é um gargalo, resta esperar que parte deste grupo, após as punições necessárias, se recupere. E, ao mesmo tempo, outras empresas assumam o espaço deixado pelas gigantes combalidas.
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*A colunista Marta Sfredo está de férias