E lá se foi o dólar para a menor cotação em mais de um ano, para quase inacreditáveis R$ 3,14 no fechamento desta terça-feira. É bom lembrar que em janeiro, há pouco mais de sete meses, a moeda atingia a máxima nominal histórica, de R$ 4,1631. É mais de R$ 1 de diferença, acima de 25% de variação em curto período. É o que os economistas e empresários chamam de volatilidade – oscilação brusca e rápida.
Nessa variação, tem muita política – não por acaso, o real se valorizou na véspera da votação do penúltimo capítulo do impeachment –, mas também um peso considerável do cenário global, que faz o capital externo trazer recursos obtidos a juros baixos lá fora para ganhar tanto com as altas taxas internas quanto com a recuperação no preço das ações na bolsa brasileira.
Em tese, uma das vantagens do dólar mais barato é pressionar menos a inflação, porque o câmbio afeta preços de produtos importados, nacionais com insumos trazidos lá de fora e os negociados por cotações fixadas na moeda americana. Ok, mas até agora o dragão não deu sinais claros de ter sido nocauteado pelo real valorizado.
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Dois novos riscos para a economia do Brasil
No meio dos sinais ainda mistos da economia, ontem saiu mais um alentador: o termômetro mensal de PIB do Itaú Unibanco teve alta de 0,5% em junho. Alguém lembra qual foi a última vez em que um índice mostrou tamanho avanço? No IBC-Br do Banco Central (BC), para citar um sensor similar, desde dezembro de 2014. O Itaú afirma que “há sinais de estabilização” e que “os indicadores antecedentes apontam para um nível de atividade econômica acima do que temos atualmente no cenário, sugerindo um viés de alta para as projeções de PIB no terceiro trimestre”.
Detalhe: o resultado do mês foi puxado pela melhora na indústria de transformação, que subiu 1,3%. E como avançou a produção, por sua vez? Em boa parte, graças às exportações garantidas pela competitividade comprada com dólar alto. Assim, se o real volta a mostrar músculos frente à moeda de referência, põe em risco esse ensaio de parada na piora, despiora ou o que quer que tenhamos criado para descrever a transição. Parte fruto da “reemergência dos emergentes” – outras moedas se valorizaram ontem pelo mundo –, o dólar (muito) barato pode ser, para o Brasil, também furado.