Quando, em dezembro de 2014, uma tempestade em Santana do Livramento – tecnicamente, uma microexplosão – destruiu oito torres e aerogeradores(foto) dos parques eólicos Cerro Chato 5, 6, 7 e Cerro dos Trindade, a questão era quanto custaria e quanto demoraria o conserto. A situação já era inusual: um parque eólico, no qual o vento, que deve ser gerador de riqueza, destruía parte do investimento. Quase um ano e meio depois, o diagnóstico de fontes próximas dos investidores é de que os quatro parques, tal como foram construídos, estão inviabilizados. Ou seja, nunca mais voltarão a funcionar.
A destruição do vento se combinou com a incúria no processo de seleção dos fornecedores, prosseguiu com disputa de interesses em órgãos públicos e desembocou no fato de que um investimento de mais de R$ 300 milhões, parte feito por uma estatal, a Eletrosul, acabasse fracassando.
Pouco antes do temporal, já havia dificuldade em obter contato com a argentina Impsa (Indústrias Metalúrgicas Pescarmona). Logo depois, a fabricante dos aerogeradores – coração do sistema, onde o vento vira energia mecânica e, depois, elétrica – entrou em recuperação judicial no Brasil. Em vez de manter as operações, objetivo da regra, abandonou o país. Levou junto a capacidade de operar os parques, que funcionam em regime de "caixa-preta", ou seja, só o fornecedor do equipamento é capaz não só de fazer manutenção como de operar os parques.
Seguiu-se uma tentativa de trocar todo o conjunto – são 27 equipamentos no total – que esbarrou em decisão da agência reguladora, a Aneel. Hoje, conforme fontes próximas aos investidores, esses parques, que somam potência instalada de 54 megawatts (MW), estão condenados. Para colocá-los em operação, seria preciso trocar todos os equipamentos mais caros, quase a metade de tudo o que foi gasto. Quer dizer, o investimento – parte com dinheiro público, da Eletrosul – perdeu-se no vento.
O caso virou alvo de estudos internacionais. É considerado o maior acidente eólico do mundo, porque a microexplosão destruiu oito conjuntos de torres e aerogeradores, além de provocar avarias em outros. O máximo de estrago provocado por problemas climáticos são três conjuntos na inóspita Escandinávia. O caso virou uma ação interminável na agência de regulação do setor elétrico, a Aneel, mas agora tramita na Justiça comum apenas para tentar livrar os investidores das pesadas multas por descumprimento de contrato.