Foi tão abrupta a queda na cotação do dólar, ontem, que o Banco Central (BC) fez leilões de um tipo de mecanismo destinado a “enxugar” o excesso de dólares no mercado. O contrato, chamado de swap cambial reverso, não mexe nas reservas, mas troca a rentabilidade do câmbio por ganhos com juro. Faz o efeito contrário do que o BC perseguia há 20 dias, quando retomou esse tipo de oferta, ou seja, segura a valorização do real. Ou tenta, porque logo depois do leilão a queda na cotação diminuiu, mas não se inverteu, e o dólar fechou em R$ 3,49.
Do ponto de vista do curto prazo – outra dimensão está difícil de projetar –, o BC tenta segurar a cotação do dólar para reduzir a oscilação que tanto perturba os incipientes sinais de reação nas vendas ao mercado externo. A recuperação das exportações, ainda modesta, é uma das poucas boas notícias na macroeconomia, acossada por inflação e juro altos. Nesse momento, a valorização acentuada do real em relação ao dólar comprometeria a tentativa de retomar o mercado externo.
Para Sidnei Nehme, diretor da NGO Corretora de Câmbio, o BC é responsável pelos “excessos” na volatilidade da cotação exatamente por ter dado liquidez abundante ao mercado com a ampla oferta dos contratos opostos, os swaps cambiais puros, que favorecem a alta do dólar.
– Passada essa fase mais nervosa e mais política, podemos descobrir que a crise econômica é maior ainda. E não dá para imaginar que vai chover dólar no mercado – afirma Nehme, um operador com décadas de experiência no mercado de câmbio.
Na avaliação de Nehme, o movimento de valorização do real é meramente especulativo, porque não encontra amparo na situação estrutural da economia.
– O vento sopra na situação contrária. Quando o terremoto passar, veremos que a situação econômica é mais grave e duradoura do que a política – interpreta.
Evitar oscilação no câmbio, nos próximos dias, pode custar muito esforço ao Banco Central. E exigir muita negociação de quem pretende manter exportações.