Desta vez, apresentamos aos leitores duas grandes reportagens que sintetizam o jornalismo.
Na primeira, Juliana Bublitz desvenda todos os detalhes das reuniões que colocaram a privatização do Banrisul como condição para o plano de recuperação fiscal do Estado – negociações que ocorreram a partir de 4 de setembro, enquanto o então governador e candidato à reeleição, José Ivo Sartori, em plena campanha, omitia a informação. A confirmação de que o Banrisul era condição para o acordo veio à tona em entrevista com a secretária-executiva do Ministério da Fazenda, Ana Paula Vescovi, ao programa Atualidade, da Rádio Gaúcha, na quarta-feira.
Na segunda reportagem, o repórter Rodrigo Lopes e o fotógrafo Júlio Cordeiro levam o leitor pela mão para dentro de um claustrofóbico submarino construído no Brasil. Seremos o sétimo país do mundo a ter uma arma de guerra com combustível nuclear se o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub) se concretizar: um investimento de R$ 32 bilhões entre 2008 e 2029.
Por que essas duas reportagens são uma aula sobre o que é o jornalismo?
Juliana Bublitz, nossa repórter especialista em finanças públicas, cultiva fontes nessa área há cinco anos. Não é fácil conseguir a confiança das pessoas para que elas revelem histórias que o governo quer esconder. Mas a Juliana, em nome do interesse da sociedade, alimenta essas relações. Numa reportagem deste tipo, fontes confiáveis revelam o que acontece em reuniões fechadas. Bastidores. Isso é importante no jornalismo.
Outro fator relevante é a checagem cruzada. Numa encrenca como essa, a privatização do Banrisul no acordo do plano de recuperação fiscal, não basta uma fonte. É preciso ouvir outras, que confirmem cada informação. Se não houver isso, a reportagem não apresentará dados precisos. Leia. Veja os detalhes. Entenda como o Banrisul foi parar em cima da mesa de negociação.
Na outra reportagem, Rodrigo e Júlio exercitam mais dois elementos importantes do jornalismo.
A grande reportagem – contar histórias sempre foi e sempre será a essência da atividade – e colocar o público em lugares onde nunca estaremos. Quem de nós entrará, alguma vez na vida, no Riachuelo, o primeiro de cinco submarinos previstos no Prosub? Nem eu, nem você, nem outros milhões de brasileiros. A reportagem tem esse valor: nos colocar em lugares inacessíveis, enriquecer a vida da gente, nos dar repertório. Você sabia que construir um submarino é mais complexo do que fazer um Boeing 777? E que o Riachuelo tem 160 pontos sensíveis, perfurações no casco por onde a água pode entrar?
Bom fim de semana!