Quanto mais as eleições se aproximam, mais cresce a nossa preocupação em deixar claro aos leitores: este jornal, como todos os veículos da RBS, não torce para o candidato A ou B.
Neste momento, talvez tenha saltado um "Hmm... sei não. Será?" de dentro da sua mente. Tudo bem. É natural que haja esta dúvida. Os veículos de comunicação são rotulados de direita ou de esquerda a toda hora.
Botamos uma foto de um casamento de uma transexual na capa nesta semana. "Isso é pauta da esquerda!", "É coisa da Maria do Rosário!" Outro dia, a foto principal de capa foi a ponte do Guaíba, com uma notícia positiva: 60% das obras estão concluídas. "Tem cheiro de campanha pro Temer!" A entrega de dezenas de veículos para a Brigada Militar "só pode ser coisa para tentar reeleger o Sartori!". No outro dia, se a reportagem questiona a venda das ações do Banrisul, alguém grita "Mas por que pegar tanto no pé do governador?". E por aí vai. Quem torce para a esquerda fica enxergando "pautas da direita" no jornal. Quem torce para a direita vê "pautas da esquerda" em ZH. Quem gosta do governo pode ter olhos mais aguçados para reportagens que apontem erros do governo, e vice-versa. E assim caminhamos.
Eu trabalho há 34 anos na RBS. Desde que era estudante de Jornalismo. Nesses anos todos, nunca, nunquinha, os donos me ligaram para pedir "Coloca tal manchete", "Troca esta pauta aí", "Dá uma olhada no colunista x, ele está muito assim ou assado". E isso não é puxa-saquismo dos chefes, não, é o jeito saudável que empresas de comunicação têm, se fizerem jornalismo independente.
vale lembrar que as notícias e reportagens não devem conter opinião. Se é uma notícia, um fato, o jornalista deve ouvir todos os lados, dar todos os ângulos do assunto.
E o que é jornalismo independente? É a Redação, seus editores e seus repórteres terem autonomia e liberdade, com responsabilidade, para fazer jornalismo. Simples assim. Então, se você achar que estamos enviesando as pautas e as coberturas para cá ou para lá, a "culpa" é nossa mesmo. Minha, do Nilson Vargas (gerente de Jornalismo responsável pelos jornais), do Carlos Etchichury (editor-chefe de ZH), de todos os editores desta Redação.
Muito importante: vale lembrar que as notícias e reportagens não devem conter opinião. Se é uma notícia, um fato, o jornalista deve ouvir todos os lados, dar todos os ângulos do assunto. Mas colunistas (e temos mais de cem) podem e devem dar opinião. Eles são livres, e nunca são censurados, para interpretar, analisar e dizer o que pensam do assunto. Por isso temos tantos, para que o conjunto da obra dos colunistas seja plural, inclusive com opiniões contrárias. Então, antes de dizer que o jornal é isso ou aquilo, mantenha esta distinção: reportagens e notícias não contêm opinião; colunistas podem dar opinião. E o conjunto da obra, que forma um jornal, deve ser independente, com liberdade para trabalhar, sem rabo preso com políticos, empresários, autoridades, empresas, entidades, partidos ou quem quer que seja.