Admiro professores que ultrapassam o conteúdo da sua matéria, para, nas entrelinhas, ensinar a levar a vida. São mestres que transmitem sua curiosidade, pois o prazer de aprender faz parte do prazer de viver. É uma sorte quando surge um professor com sólida formação e a generosidade em compartilhá-la. É o caso do meu mestre, hoje amigo, Luiz Osvaldo Leite.
No seu aniversário de 90 anos, entendi um pouco mais do seu segredo. Na festa, chegou o momento dos agradecimentos. O roteiro geralmente é: meu pai, minha mãe, minha esposa e meus filhos, com duas palavrinhas amorosas para cada um. Esperava algo diferente. E veio.
Com sua invejável memória, agradeceu a todos que lhe ensinaram e ajudaram na vida. Era uma imensa lista que começou com dada uma de suas professoras do primário e chegou nas oportunidades de trabalhar com x ou y pessoas, cujos encontros foram intelectualmente frutíferos. Ou seja, agradeceu a felicidade de conviver com pessoas inspiradoras. Durante o discurso, recriou o momento histórico em que viveu, para agradecer às instituições e à cidade de Porto Alegre, por proporcionar-lhe a chance de usufruir de momentos culturais, a que assistiu, ou ativamente participou.
O espírito da sua fala foi tão comovedor como simples: eu sou o que sou graças aos outros. O oposto dos discursos autobiográficos atuais. Aqueles que jogam confetes em si mesmos, falando apenas dos obstáculos que superaram, e como, heroicamente, se fizeram sozinhos. É claro que todos passamos por momentos solitários de crescimento. Porém, quando nos refundamos, não é só pela força pessoal, mas também pela bagagem afetiva/cognitiva já recebida. A ideologia do self-made man (fazer-se por si mesmo), é uma fraude visando engrandecimento egoico.
O segredo do professor Leite é o exercício da arte do encontro, sempre que pode, está entre amigos para ensinar e aprender. Possui a humildade dos que sabem que o conhecimento é parcial, que sempre resta algo para descobrir. Por isso segue atento e sedento às novidades, como se tivesse chegado ao mundo ontem.
Ele é o exemplo da possibilidade de um envelhecimento sábio e digno. O ressentimento não tem vez, segue sempre na postura de agradecer o que a vida lhe deu. Especialmente à Luiza, sua incrível companheira.
Eu agradeço à vida pela sorte de conviver com este professor. Ainda tento ser um bom aluno.