Semana passada, um incidente em um colégio de Porto Alegre acabou na polícia. Vamos ao fato: alguns alunos usaram inteligência artificial para alterar uma fotografia. Em uma foto de mulheres nuas, eles inseriram o rosto de algumas de suas colegas. Autores e vítimas com aproximadamente 14 anos.
Coloquem-se no lugar de uma adolescente, naquela idade em que a insegurança social está no seu auge. Ou no lugar dos pais que tiveram uma filha exposta desta forma. Lembrem, quando algo cai na rede, é impossível deletar todas as cópias.
A situação dos pais dos jovens infratores não é melhor. O que seus filhos fizeram é indefensável e indesculpável. Os autores vão descobrir os limites da lei da pior forma. Para a escola é um desgaste, queiram ou não, pode-se pensar que lá os alunos não estariam protegidos.
Porém, em qualquer escola isso poderia ter acontecido, porque não existe no currículo de nenhuma, uma disciplina que aborde o tema da ética para o mundo digital. Não seria fácil, porque a ética como abstração, ainda está distante para alunos dessa idade. Mas um espaço onde se pudesse discutir sobre eventos como esse, e tantos outros, não seria difícil. Poderia-se examinar quais foram as consequências para todos os envolvidos nas “brincadeiras” desse tipo.
Mas não seria uma obrigação dos pais a educação para o mundo digital? Em tese sim, mas veja, está na mão deles e isso aconteceu. O fato não é um exemplo isolado, apenas ganhou dimensão pela gravidade. É do cotidiano das escolas, e dos pais, apagar incêndios por publicações inadequadas dos alunos nas redes sociais. Em algumas que foram descobertas pelo colégio, ou pela polícia, bullying, racismo, misoginia, homofobia, e intolerância religiosa, eram feijão com arroz.
Estamos na mesma esfera da educação sexual, os pais não fazem e se enfurecem se a escola fizer. Temos como resultado jovens desorientados, buscando informação sexual na internet e entre seus coetâneos. Portanto educados pela pornografia e pela falta de noção dos colegas.
O aperfeiçoamento ético, o desenvolvimento da empatia, o respeito às diferenças, não vem com a idade. Os jovens precisam de adultos que os ajudem na assimilação das regras para viver em sociedade.
Julgo os autores da foto adulterada, menos como delinquentes - embora creio necessária uma punição -, do que como órfãos de pais educadores.