Vinicius Junior mostrou o quanto é dura a luta contra o racismo. O quanto ela bate forte e machuca quem é vítima dele. Ele, claro, foi o escolhido para falar sobre o amistoso Espanha x Brasil, um jogo marcado por causa dele, para chamar atenção da luta contra o racismo do qual é vítima de forma sistemática na Espanha. Quando perguntado sobre os críticos que o apontavam como provocador, ele desabou no choro que já havia aparecido e sido contido minutos antes:
— Acredito que tenham de falar menos de tudo o que faço de errado dentro do campo. Tenho 23 anos, é um processo natural, não pude aprender tanto por ter saído muito jovem do meu país. Mas sigo estudando. Por que eles, os repórteres daqui, não podem estudar, ver o que está acontecendo. Cada vez tenho menos vontade de jogar, mas eu vou seguir lutando.
Neste momento, Vinicius irrompeu no choro. Foram quase dois minutos, em que, de cabeça baixa e o indicador e o polegar a apertar os olhos, ele colocou para fora um pouco da tristeza a que vem sido submetido toda vez que é alvo de atos racistas. Ou críticas por estar se posicionando.
Vinícius tentou retomar, pediu desculpas, mas voltou a chorar. Respirou fundo e seguiu adiante. Mais adiante, ele voltaria a se emocionar ao falar do apoio da família e dos amigos para que siga enfrentando a chaga do racismo.
Mais do que se emocionar, o atacante de apenas 23 anos se mostrou preparado para liderar essa frente de combate. Disse que tem estudado muito, lido a respeito, ouvido pessoas com conhecimento sobre o tema. Questionou o fato de o racismo ainda não ser considerado crime na Espanha, convocou Uefa, Conmebol e Fifa a se alinharem na luta cada vez mais, parabenizou e agradeceu o apoio que vem recebendo da CBF e valorizou os companheiros de profissão que se solidarizam e se juntam a ele em manifestações via imprensa ou mesmo em mensagens privadas a ele.
Questionado por jornalistas locais se deixaria a La Liga, por estar cansado das ofensas, disse que deixar a Espanha seria dar a vitória aos racistas. O que ele não vai fazer. Pelo contrário, seguirá lutando e combatendo. E sorrindo. Embora, como ele próprio confessou, muitas vezes o sorriso esconde uma tristeza profunda.
Ao final, ao ouvir a pergunta de um repórter negro espanhol, o único entre os mais de 100 jornalistas na sala, salientou:
— Você sabe, como eu, o quanto precisamos fazer dobrado para ser reconhecido. Minha luta é para que isso mude e que as pessoas negras não sofram como sofremos hoje. E que não é nem perto do que nossos antepassados sofreram.
A entrevista de mais de 40 minutos foi encerrada. Vini recebeu aplausos de todos os jornalistas e saiu para o campo no Alfredo di Stéfano.