A expressão latina carpe diem é um mantra para louvar uma vida leve e despreocupada. Na tradução ao pé da letra, seria: colha o dia. A usamos no sentido de buscar o prazer agora – não deixe para depois, goze o momento, o amanhã fica para amanhã.
A origem do dito está em uma poesia de Horácio Flaco (65 a.C. – 8 a.C.), poeta e filósofo romano, no livro Odes. O verso todo é: Carpe diem, quam minimum credula postero. Tradução: aproveite o dia e confie o mínimo possível no amanhã.
Mas o sentido sempre foi esse? Quando analisamos o poema inteiro, o conselho vai na direção oposta. Nos versos anteriores, o poeta dizia não saber quantos mais invernos passaremos. Pedia sabedoria, falava de diluir o vinho e encolher a esperança. O sentido original era de aproveitar as oportunidades, pois no futuro não sabemos se as teremos.
A citação possui várias leituras na história da literatura. A que usamos atualmente é possível que se deva ao extraordinário filme A Sociedade dos Poetas Mortos. A obra trata da luta de um professor contra o desânimo de seus alunos frente às expectativas impositivas de seus pais. No filme, carpe diem foi usada no sentido restrito de viver o momento, e assim ganhou popularidade.
O sentido de gozar o momento, e não aproveitá-lo para construir o futuro, retrata mais o espírito da contracultura dos anos 60 do século 20 do que de Horácio. A geração retratada no filme denunciava, com razão, a vida voltada apenas ao trabalho, aos deveres sociais e religiosos. Eles não apontavam um plano positivo de como levar a vida, mas de tomar o rumo inverso do que seus pais faziam.
Nessa forma, a expressão carpe diem traduz nosso tempo. Ecos da contracultura nos impactam. Embora sigamos presos ao trabalho, nosso ideal é gozar a vida. Visite as redes sociais, elas são o melhor exemplo. Lá todos mostram que sabem usufruir. Hoje, não importa tanto o que somos, mas como desfrutamos o que o mundo oferece. A batida é: diga o que consomes e te direi quem és!
Uma vida significativa para os outros, a construção de uma obra, de um legado, a dedicação à ciência ou à arte não são suficientes. Para realmente ser alguém, o sujeito deve postar cenas que envolvam praia, lugares exóticos, carrão, iate, champanhe, festas e famosos. Carpe diem, na versão atual, não é mais uma sugestão, é uma ordem.