Caso você não goste de cães ou gatos, mantenha em segredo, senão você poderá ser cancelado. Lembre-se, nossa época é inclemente para quem comete o delito de não amá-los. Afinal, quem não ama animais, não amará humanos. Mas isso procede? Claro que não. O que se pode deduzir das pessoas que não se afeiçoam por animais, é que elas não se afeiçoam por animais.
Outra questão é porque chegamos a esse ponto. Esses dias topei por acaso com o livro A Cat Hater’s Handbook (Manual dos Odiadores de Gato), um livro da década de 70 do século passado. Embora predomine o humor, traz uma coletânea de opiniões ácidas sobre o amor aos gatos. Enfim, um livro que hoje dificilmente seria publicado.
Mas existe algo que difere os amantes de animais dos outros mortais? Vamos tentar um caminho. A maioria das pessoas, na presença de bebês, é invadida por uma ternura branda, como se abrisse uma porta amorosa em direção ao pequeno serzinho. Existe uma complexa lógica para tal efeito, mas a vasopressina e a ocitocina cumprem uma função essencial, como se fossem a “droga” deste comportamento. Um lembrete, hormônios só exacerbam comportamentos já existentes. Se não há vocação materna/paterna, nada funciona.
Em algumas pessoas, os animais de estimação disparam os mecanismos em que estes hormônios estão envolvidos. Como com os filhos, há uma diminuição da agressividade, uma melhora da interação social e uma sensação de prazer. Talvez desta experiência surgiu a intuição de que quem gosta de animais seria mais pró amor em geral.
Como não existe nada sem um porém, vamos ao lado sinistro destes hormônios. Os efeitos desse amor para com os seus tornam essas pessoas menos amorosas com os outros. Serão hostis com aqueles que elas classificam como diferentes. Ou seja, é um cobertor curto, algo sempre fica de fora. O amor exacerbado ao lar e aos seus pode ensejar níveis maiores de racismo, xenofobia e intolerância frente aos outros.
O enigma sobre amar os animais é capítulo do livro: quem são as pessoas confiáveis e amorosas nesse mundo sem coração? Somos mais felizes rodeados de animais, mas não melhores por isso. E pode tornar-se uma relação de troca, onde os cuidaríamos em nome de uma sensação de família, que mal dosada, poderia criar uma bolha narcísica e um ódio aos diferentes.
Enfim, animais de estimação, ame-os com moderação. E não odeie quem não comunga com você.