Se você não tiver carinho pelo leitor, esqueça.
Vá fazer outra coisa. É por ele que estamos aqui.
Para fazê-lo ver um detalhe, um pormenor no cotidiano ainda não percebido. Para emprestar palavras a um pensamento que ele já teve. Para dar forma ao rascunho de sua fantasia. Entregue o que ele ainda não sabia que queria dizer.
Não escreva sobre o que estão todos comentando. Nós somos o contraponto, o furo na realidade dura do resto do jornal. O espaço da poesia possível nas páginas amargas do nosso tempo.
Textos indignados são uma apelação. Demonstram o fracasso absoluto no entendimento do espírito da crônica. Só enchem a paciência do leitor e não acrescentam nada a ninguém.
Os jornalistas não vão gostar de você. Enquanto eles fazem o trabalho pesado, o cronista chega para a pitada de sal que finaliza o equilíbrio anímico do jornal. Por outro lado, não à toa, chamam o espaço de colunas: pois sem elas o edifício do jornal cai. Eles nos toleram porque sabem. É por isso que tantos jornalistas fazem crônica. Eles também não resistem ao prazer de escrever solto, sem as amarras da realidade.
Não é necessário ser otimista, seria redundante. A crônica é o otimismo em forma de prosa. O exemplo do poder da delicadeza. Acender a magia das palavras no coração do leitor nos é suficiente.
Tenha em mente que a crônica, como as melhores coisas da vida, não serve para nada. Justamente por isso este espaço é importante: o que está em jogo é a fruição.
Nunca terminarei de agradecer a Carlos Heitor Cony pelas suas crônicas durante a devastação da hiperinflação no desgoverno Sarney. O Brasil derretendo e ele narrando o deleite por suas cadelas setters. Era o único texto no jornal que encorajava a acordar no próximo dia.
Não queira parecer esperto, use palavras que todos entendam. Evite jargão profissional e expressões estrangeiras quando há similar nacional.
Seja generoso. Tenha em mente o que você está oferecendo ao leitor. Em como ele sairá pensando diferente, ou ao menos mais leve, depois da leitura.
Não seja seco, mas cuidado, crônica é como café: muito açúcar estraga.
Surpreenda o leitor. Varie os assuntos. Nada é mais maçante do que o cronista de um único tema, único desafeto, única obsessão. Salvo se você for o Cony.
Seja didático, mas nunca professoral.
Para Oscar Wilde só existem dois tipos de texto: os bem escritos e os mal escritos. Se o leitor não entender, a culpa é sua.
O texto sempre pode ser menor. A frase sempre pode ser mais curta. A concisão é a alma da crônica.
Não subestime a inteligência do leitor. Não esqueça: você não é melhor do que ele, apenas é cronista.
Sobretudo, não dê conselhos. Muito menos escreva lista de conselhos. Isso revela falta de pauta melhor.