A brincadeira começou com os primatologistas, eles dizem que a adolescência é a nossa fase babuína. O paralelo se dá porque esses macacos são essencialmente hierárquicos e estão constantemente imitando quem está no topo da cadeia social.
É uma descrição incompleta, mas verdadeira do ser adolescente. Situa bem esse momento em que eles saíram da influência parental e estão mesmerizados uns com os outros, buscando uma posição de prestígio entre seus pares. Portanto, nessa lógica identitária extrema, estão copiando seus “deuses” coetâneos e aterrorizados em não alcançar sucesso.
Essa é a fase em que os populares reinam. Com as redes sociais essa temporada tornou-se ainda mais dura, pois ela nunca cessa. Antes, chegar em casa era um refúgio dessa demanda. Agora, com a comunicação virtual, é o eterno mais do mesmo: medir-se com os outros e ser julgado.
Vocês podem retrucar que esse movimento é a essência do humano. Somos seres sociais, dependentes do olhar dos outros, constantemente estressados por aceitação. Concordo, apenas sublinho que na adolescência isso chega ao paroxismo. Além disso, como são iniciantes, os adolescentes não possuem anticorpos para as trombadas inevitáveis dessa socialização, digamos, selvagem.
Tornar-se adulto é também individualizar-se: construir defesas contra o que vem de fora; desenvolver senso crítico para fazer escolhas e não apenas seguir a manada. Mais da metade dos problemas dos adolescentes que chegam aos consultórios são falhas em se enturmar. Uma vez inseridos, dispensam a terapia. Esquecem rápido o quase enlouquecimento por estar fora do grupo.
O desencaixe pode ser outro: quando a individuação é precoce. Um adolescente com clareza sobre o mecanismo tolo de inclusão, pode não querer render tributos ao grupo, suas regras e seus valores. Será excluído sem dó. Ele pode não precisar da aprovação, por pensar por sua cabeça, mas ninguém, especialmente se jovem, consegue levar a vida sozinho. Será tachado de nerd, de esquisito, sofrerá bullying ou será invisibilizado. Para aqueles macaquinhos que não penteiam o pelo para o mesmo lado, o bando dedica seu desprezo.
Por que tanta sensibilidade com as pequenas diferenças? Simples, quem vive de mimetismo não olha para outra coisa. Sente-se pertencendo, parte integrante do que se tem que ser e pronto. Então chega aquele que vê as estrelas das redes sociais em seu real tamanho e pergunta: por que imitar? Evidentemente que o perguntador deixará o imitador sem chão, não era óbvio?
O começo da vida adulta é quando fazemos essas perguntas e vamos seguir o nosso nariz ao invés de obedecer à manada. Porém o impulso de pertencer sem questionar a um grupo nunca nos abandona de todo. O preço do clube é caro: deixar de pensar, fazer coro a um bando e imitar o líder.