Semana passada, no caderno Vida, J.J. Camargo dedicou-se a entender os odiadores. Esses personagens que enchem as redes sociais, e as caixas de comentários dos sites, com esgoto. Segundo ele, essa praga sempre existiu, porém hoje ganha visibilidade graças à internet. A tese dele é que o ódio seria a pauta de quem não tem inserção real no mundo: pela falta de protagonismo, passam a agredir quem a consegue. Sentem-se injustiçados, incompreendidos, e atacam quem surge ao acaso na sua mira. Seriam medíocres e incompetentes a ladrar para a caravana que passa.
Pego carona no tema pela importância do assunto. Acrescentaria: a raiz do ódio está na sensação de impotência do odiador. Hannah Arendt dizia que, na política, quanto mais isolado, desenraizado e ilegítimo um grupo for, mais seus métodos serão violentos. Quando um partido passa a ter legitimidade, raízes sólidas na comunidade e autoridade moral reconhecida, seu discurso é pacífico.
Na micropolítica bravateira da internet, vale a mesma lógica. Quanto mais alguém é, ou sente-se, um ninguém, mais violento será seu discurso. Só assim ele pensa que será ouvido. Os sábios podem falar baixo, pois os outros param para escutá-los. Ao colérico restam os gritos, os palavrões, as ofensas e as ameaças. Sem estes ingredientes baixos, seu raciocínio, ou melhor, a falta dele, não comove.
Acredito que o odiador típico é alguém sem plausibilidade e sem público, uivando desde seu beco periférico. Busca nas redes sociais um canal para ser ouvido, e faz o que todos fazemos: procura reconhecimento. Se não conseguiu por vias construtivas, tenta o avesso, pela destruição. Engaja outros companheiros, igualmente isolados, para juntos e unidos pelo ressentimento serem profetas de causa nenhuma.
Existem odiadores com canais abertos, bem conhecidos e com seguidores. Agora não se trata de falta de ouvidos, a impotência neste caso está nas teses. Tomem o exemplo do feminismo: como não há argumentos racionais contra a demanda de paridade social entre homens e mulheres, só resta ofender quem a reivindica. Os arrazoados contra as mulheres que teimam em não ser recatadas e do lar chegam encharcados de fel.
Os odiadores não têm o que dizer fora ofensas, não possuem pautas propositivas. Seu universo é o negativo, é destruir o que não entendem e o que os desacomoda. Basta lhes dar espaço para ver que de lá não sai nada, a não ser mais agressões, pois é só o que sabem fazer.
Quanto às atitudes práticas: jamais discuta com um raivoso. É perda de tempo. Lembre-se: não existe um idiota discutindo, são sempre dois. Se você mordeu a isca, já perdeu. Enquanto não envolver crime, como por exemplo ofensas raciais, melhor deixá-los falando sozinhos. Tente perdoar e ter paciência, afinal, não sabem o que dizem...