Ninguém imaginava que o nazismo voltaria à moda. Mas o mundo está para nos surpreender. Dez dias atrás, por um crime de 2005, três neonazistas foram condenados em Porto Alegre por agressão a judeus. O nazismo, entendido fora de contexto, acabou dando contornos a grupos movidos pelo ódio que advém da insignificância social. Essa palavra os une e transforma impotência social em superioridade. Aqueles que nada têm recorrem ao: pelo menos sou branco e homem, portanto melhor.
Nos mesmos dias, ocorria uma patética polêmica entre um grupo de brasileiros e a embaixada da Alemanha. O grupo queria – que mico! – ensinar aos alemães que o nazismo pertencia ao espectro do pensamento de esquerda. Isso porque um vídeo institucional alemão mencionou, de passagem, a obviedade de que fora um movimento de extrema direita.
É fácil ser neonazista, basta sair esculachando diferenças de pele e pensamento. Se o mundo complicou, o neonazismo simplifica
Como chegou-se a cobiçar essa identidade, se o nazismo – com sua eficiente máquina mortífera – acabou simbolizando nosso potencial para o mal? Atualmente a vitimização é moeda corrente, paradoxalmente, também entre os que menos teriam para queixar-se.
Como homens brancos poderiam ser vítimas? Simples, como o mundo é um caminho asfaltado para eles, e pedregoso para o resto, quando fracassam, o peso da derrota chega dobrado. Quando descobrem que não valem nada, jogam a culpa na concorrência: "Eles estão roubando meu lugar". No "eles", cabe muita coisa: imigrantes, negros, judeus, homossexuais, mulheres... Neste caso, os socialmente derrotados identificam-se com uma ideologia historicamente derrotada. Como perderam a guerra de suas ideias, só lhes resta ódio e ressentimento.
É fácil ser neonazista, basta sair esculachando diferenças de pele e pensamento. Se o mundo complicou, o neonazismo simplifica. Ele é a própria ausência de pensamento. É o puro ódio mascarado de ideologia. O ódio é básico, ao alcance do humano mais rudimentar.
Civilizar-se é domar o ódio, mas é uma conquista frágil, porque o homem não tem propensão para o bem. Nossa propensão é para se achar do bem e escalar a diferença para o papel do mau. Nós contra os outros é o pensamento elementar daquele que precisa do ódio para sentir-se o bom. Odiadores atacam tudo que não lhes é espelho.
O homem tende a conceber o mundo a partir de seu umbigo. Universaliza a si mesmo como a obra-prima da natureza. Só escapamos desse engano levando em conta a diversidade humana. O neonazismo é a utopia radical da eliminação da diferença, ou melhor, dos diferentes para emulação da estreiteza mental. Enfim, para-raios de ignorantes.
A nota cômica é nazismo tropical. Alguém teria que dizer aos Carecas do Brasil, os neonazis tupiniquins _ olhe algumas fotos deles –, que é necessário um physique du rôle para essa ideologia. Nossa sopa racial jamais seria aceita nos padrões arianos.