E daquele dezembro de 2002 já se vão quase 22 anos. Eu era redator da Rádio Gaúcha, repórter da querida TVCOM e trocava Porto Alegre por Florianópolis para ser repórter do esporte da RBS TV naquela terra linda. Foram dois anos e meio em Floripa vivendo como aquele centroavante na fase boa com tudo dando certo e veio o convite para trabalhar no grupo Globo, em São Paulo. Algumas vezes na vida, o "não" é uma opção inválida. Na ligação para minha saudosa mãe, depois de ouvir a novidade, sua frase nunca mais saiu da minha cabeça: "Fico muito feliz porque você está vencendo, mas é sempre mais longe da gente, né?".
São Paulo é a cidade de todas as cidades e, sem exageros, lá tudo acontece. E o guri que tinha sonhos quando era estudante da Fabico e auxiliar de redação na Zero Hora foi realizando todos. Todos os jogos de quase todos os esportes, os mais importantes, as finais, aparecer no Jornal Nacional, um passaporte cheio de carimbos, outro passaporte cheio de carimbos, a Olimpíada, a Copa do Mundo e um prêmio na Fifa com o Messi na plateia... Foram 18 anos vividos com o melhor e o pior de uma profissão que exige dedicação total cobra e entrega.
Até que em março de 2022 acordei com uma decisão: "Não vou trabalhar". Não sei o por quê, mas não vou trabalhar. Ida à psiquiatra, licença do trabalho, medicação e uma explicação da Dra Ana Paula Carvalho fez meu mundo parar:
— Marco, você está com depressão e ansiedade ao mesmo tempo. Você não vive o hoje. Você lamenta o que não deu certo ontem e projeta o que pode acontecer amanhã.
Licença do trabalho, medicação e terapia. Eu tinha um diagnóstico da síndrome de Burnout. Um esgotamento no trabalho. Esgotamento e não cansaço. Burnout não se trata tirando férias.
E foi logo na primeira conversa com o terapeuta José Carlos Zepellini Jr. que uma frase começou a mudar a minha vida:
— Marco, primeiro e o mais importante de tudo: você não tem um emprego. Você tem uma carreira.
Depois das licenças, voltei ao trabalho e terminei o ano numa transmissão de Inter x Palmeiras, na última rodada do Brasileirão. Terminar em Porto Alegre não era só uma coincidência.
Conversa e saída da melhor forma da maior empresa de comunicação do país e um 2023 para, aí sim, descansar. Em janeiro passado ganhei alta. Zero medicação, emoção no consultório da Dra Ana Paula, brinde com café expresso e a missão de falar desse problema que atinge 30% dos trabalhadores no Brasil, segundo a Associação Nacional de Medicina do Trabalho.
Com o ano novo, veio o início de uma conversa que não demorou muito com o grupo RBS. Olha o "não" se apresentando como opção inválida de novo. Afinal, meu primeiro emprego foi na Zero Hora, lá em 1996, e ninguém se perde no caminho de volta. Mas na conversa com o terapeuta, contei que sentia algo novo e até estranho. A sensação não era de uma volta ao lugar onde nasci, cresci, estudei, me formei e comecei a trabalhar. O Zé nunca erra:
— Marco, a cidade mudou, a empresa mudou e você mudou. Sim, é tudo novo.
Para você que chegou até aqui, agradeço o interesse. Volte sempre. E como a coluna é teoricamente sobre futebol... Na volta dos gaúchos a maior competição do país, o Inter venceu, o Juventude empatou e o Grêmio perdeu. Com dois jogos a menos que a maioria dos adversários, por enquanto, nenhum dos nossos briga na ponta de cima pela pontuação – embora o Colorado tenha o mesmo aproveitamento dos líderes. Eu fui, vivi, estou de volta e a dupla Gre-Nal ainda não ganhou um Brasileirão de pontos corridos. Isso também precisa mudar.