O que se viu neste domingo (8) em Brasília é mais do que o nosso equivalente à invasão do Capitólio por inconformados com a eleição de Joe Biden há dois anos. O que vimos em Brasília foi o nosso 11 de Setembro, obviamente não em termos de tragédia em vidas, mas como um fundo divisor de águas na política e na vida da sociedade brasileira.
Haverá um Brasil antes e depois de 8 de janeiro de 2023. O país que amanhecerá neste 9 de janeiro será menos tolerante com os que conspiram contra a democracia, menos ingênuo com as aparências inocentes de grupos fanatizados diante de quartéis e em bloqueios de estradas e mais vigilante quanto às intenções daqueles que adotam o recurso da força para tentar fazer suas vontades.
O Brasil de 9 de janeiro, infelizmente, também consumirá um tempo, recursos e energias extraordinários não só para reparar os danos promovidos pelos arruaceiros golpistas nas sedes dos três poderes da República, mas sobretudo para identificar, responsabilizar e punir os vândalos, seus financiadores e mentores.
Há um menu de crimes desfiados no domingo em Brasília. Sua elucidação, indo-se às raízes das células que conspurcaram a democracia, passa a ser uma tarefa inadiável e que conjugará esforços de todas as instituições, governos, prefeituras, parlamentos, associações empresariais e sindicais em apoio às autoridades legais que farão a investigação e responsabilização dos criminosos.
Os baderneiros golpistas que marcharam para a Praça dos Três Poderes nunca imaginaram que sua ação fanática e irresponsável teria ainda outra consequência inesperada na história brasileira. De agora em diante, o bolsonarismo radical passa a ser associado indelevelmente às imagens de destruição em Brasília, do fanático sentado à mesa da presidência da Câmara, ao crucifixo derrubado ao chão no plenário do STF.
Ainda que Jair Bolsonaro saia de seu mundo paralelo na Flórida para negar qualquer relação com os vândalos, ele e seu movimento extremista estarão carimbados para sempre como a síntese de tudo aquilo que seus eleitores moderados, a grande maioria, mais rejeitavam: a bagunça, a terra sem lei, os quebra-quebras e a violência. A partir deste 8 de janeiro, as cenas da grande baderna em Brasília perseguirão Jair Bolsonaro para sempre. É uma ironia que tenha cabido aos fanáticos bolsonaristas ceifar as chances de Bolsonaro um dia poder sonhar com a volta à Presidência.