Você pode nunca ter se dado conta, mas, por mérito dos técnicos da Receita Federal, o Brasil foi um dos primeiros países a possibilitar que seus contribuintes prestassem declaração de renda por meio eletrônico – no início dos anos 90 em rudimentares computadores, e hoje até mesmo via app no celular. Contribuintes de países desenvolvidos quebravam a cabeça e se perdiam na papelada, enquanto os brazucas gravavam a declaração em disquetes, e depois a faziam na internet, coisa que os norte-americanos tiveram de correr atrás.
Mais recentemente, por obra e graça do Banco Central, os brasileiros foram abençoados por outra enorme facilidade tecnológica: a transferência universal de dinheiro, instantânea e sem custos. O popularíssimo pix é uma extraordinária engenharia tecnológica e financeira que poucos países conseguiram implantar com tal envergadura e segurança – em geral, esse serviço no Exterior é restrito a aplicativos privados que exigem seu uso pelas duas pontas.
Pois há uma terceira inovação brasileira que também devia ser motivo para figurar no panteão dos avanços tecnológicos tupiniquins. A urna eletrônica, tão vilipendiada por quem tem dificuldade em compreendê-la ou abraça teorias da conspiração lançadas por inconformados com resultados eleitorais, é outro exemplo de que a Nação pode dar exemplo a muito país desenvolvido. Como repórter e editor, testemunhei eleições na América Latina nas quais os eleitores tinham de sujar o dedo com uma “tinta indelével” para não votar duas vezes, enquanto a Justiça Eleitoral brasileira aprimorava constantemente a segurança do voto até se chegar à biometria com a urna eletrônica. E, apesar de toda a capacidade e ânimo investigativo da imprensa, do Ministério Público e da Polícia Federal, desde que a urna começou a ser implementada, em 1996, nunca uma denúncia de fraude ou violação dos resultados foi comprovada.
O fato de que o voto digital ainda não seja largamente usado em outros países é problema da cultura deles em mudar sistemas e assimilar inovações – o modelo norte-americano, convenhamos, é honesto mas primitivo. O pix também é desconhecido da maioria do planeta, mas não deixa de ser um sucesso. Fora a triste sina de termos uma bandidagem que rouba celulares para transferências criminosas, o sistema é seguro, simples e eficaz, como também o são o IR e a urna brasileira.
Das três, minha candidata à grande vitoriosa da inovação brasileira é a urna eletrônica, capaz de gerar resultados confiáveis em poucas horas em um país de dimensões continentais onde muitas vezes sequer há estradas. Não é pouca coisa para quem conhece as dificuldades de uma inovação brotar no Brasil e ser valorizada pelos próprios brasileiros. Por isso, meu voto vai para a urna eletrônica.