É falso que agentes da Polícia Federal em Brasília tenham identificado fraude nas eleições deste ano, envolvendo lote de urnas não zeradas, ou seja, que já conteriam votos computados antes mesmo da votação. O boato requenta a denúncia de 2018, no contexto das eleições daquele ano, que foi arquivada após investigação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Essa peça de desinformação também já havia sido reciclada e desmentida na última eleição municipal, em 2020.
Conteúdo investigado: vídeo publicado na rede social Kwai no qual um homem, que se identifica como eleitor de Jair Bolsonaro (PL), afirma que agentes da Polícia Federal (PF) em Brasília teriam identificado fraude nas eleições deste ano. Segundo o eleitor bolsonarista, os policiais teriam encontrado urnas não zeradas, ou seja, que já conteriam votos computados antes mesmo da votação. Eles ainda teriam impedido a Justiça Eleitoral de repassá-las aos municípios.
Onde foi publicado: Kwai.
Conclusão do Comprova: é falso que agentes da Polícia Federal (PF) em Brasília tenham identificado fraude nas eleições deste ano envolvendo lote de urnas não zeradas, ou seja, que já conteriam votos computados antes mesmo da votação. O boato se baseia em uma denúncia de 2018 que foi protocolada por dois policiais militares, Ivomar Vieira Padre e Hércules Alves Viana, com base em relato de um suposto representante do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que os teria procurado.
A denúncia da dupla foi arquivada após investigação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). O suposto representante do TSE, um agente de transmissão, cidadão convocado para o dia da eleição para enviar os dados de votação ao fim do dia, chamou de fraude uma atualização do sistema das urnas, o que levou a uma confusão, por parte dele, em relação aos dados que constavam na zerésima e no boletim de urna. Como informou o MPDFT, as autoridades locais estavam informadas dessa atualização. O Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal (TRE-DF) atribuiu essa desinformação ao “desconhecimento técnico” do agente de transmissão. A PF, que colheu depoimento do agente de transmissão, também concluiu não haver comprovação de fraude.
A denúncia infundada levou Padre e Viana a serem alvo de inquérito por perturbação dos trabalhos eleitorais; eles firmaram acordo com a Justiça em 2019 para encerrar o caso.
Essa peça de desinformação, verificada pelo Comprova em 2018, já havia sido reciclada e desmentida nas últimas eleições municipais, em 2020, conforme verificado pela agência de checagem de fatos Lupa.
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação: a publicação verificada tinha 9,4 mil visualizações, 9.381 curtidas, 2.309 comentários e 4.568 compartilhamentos no Kwai até o início da tarde desta quinta-feira (29).
O que diz o autor da publicação: o autor da publicação que motivou esta checagem é um usuário do Kwai que se autointitula “Anderson Malabarista (bolsonarista)” – ele é o homem que aparece no vídeo. Conseguimos encontrá-lo no Facebook e mandamos mensagem direta para ele, mas não obtivemos retorno até a publicação desta checagem.
Como verificamos: buscamos, no Google, por artigos contendo as palavras-chave “fraude”, “zeradas”, “polícia federal”, “urnas”, “2022” e “Brasília” ou “Distrito Federal”. Duas das primeiras páginas que apareceram eram reportagens do Correio Braziliense e do UOL noticiando o caso de uma peça de desinformação que contava narrativa similar à do conteúdo aqui verificado, mas no contexto do pleito de 2018 e reciclada para as eleições locais de 2020. Retornamos ao Google para buscar as palavras-chave “fraude”, “urnas”, “2022” e “Ivomar”, que é o nome de um dos policiais que promoveram a peça de desinformação de 2018. Encontramos um artigo do serviço de checagem de fatos AFP Checamos, desmentindo a mesma história, agora reciclada para as eleições de 2022.
Boato reciclado é baseado em denúncia infundada
O vídeo analisado pelo Comprova recupera um conteúdo falso baseado numa gravação feita no primeiro turno das eleições de 2018, quando dois policiais militares do Distrito Federal, identificados como sargento Ivomar e sargento Hércules, relataram que houve fraude nas urnas. Segundo os policiais, eles foram informados por um suposto representante do TSE responsável pela verificação das urnas de que havia ocorrido um erro ao confirmar o código da chave da urna e que havia a suspeita de a urna já ter contabilizado votos. Entretanto, a denúncia foi apurada e foi comprovado que não houve fraude nas urnas. Os policiais citados no vídeo foram condenados pelo crime de perturbação dos trabalhos eleitorais, segundo noticiado pelo TRE-DF.
O vídeo contendo as desinformações geradas pelos policiais viralizou pela primeira vez em 7 de outubro de 2018, data do primeiro turno das eleições gerais, e voltou a repercutir na internet em 2020, período das eleições municipais.
Em nota, a Justiça Eleitoral reforça que a situação descrita pelos agentes ocorreu após o denunciante, o agente de transmissão, descrito apenas como “um eleitor”, se confundir com procedimentos padrões. A fraude não foi comprovada após o recolhimento do depoimento. Os policiais estavam acompanhando o denunciante e gravaram um vídeo em frente à PF, reforçando a alegação de problema na urna. Fato é que o agente de transmissão, cidadão convocado para o dia da eleição, é responsável por enviar os dados de votação no fim do período eleitoral. A Justiça Eleitoral concluiu que ocorreu “desconhecimento técnico” por parte do denunciante, que não soube distinguir o boletim da urna e a zerésima.
No vídeo analisado nesta verificação, o eleitor do candidato à reeleição Jair Bolsonaro afirma que o TSE deixou que a urna fraudada fosse enviada para os municípios, reforçando a informação falsa. Ao dar credibilidade a esse assunto, o homem reforça a ideia de insegurança nas urnas, processo que é fiscalizado pela Justiça Eleitoral e também conta com apoio das polícias Federal, Civil e Militar. Além disso, propaga uma informação que já foi desmentida.
Por que investigamos: o Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Durante o período que antecede as eleições no Brasil, muitos conteúdos estão sendo divulgados com o objetivo de tumultuar o processo e podem influenciar a decisão de eleitores brasileiros. A desinformação é danosa à democracia porque distorce a compreensão da realidade. A população tem direito de saber a verdade e basear suas escolhas em informações confiáveis.
Outras checagens sobre o tema: a peça de desinformação aqui verificada foi desmentida, no contexto das eleições deste ano, pela AFP Checamos, parceiro do Projeto Comprova, no dia 26 de setembro. O próprio Comprova desmentiu o boato em sua versão original, em 2018. Em relação a outras peças de desinformação sobre suposta fraude eleitoral, o Comprova mostrou, recentemente, que vídeo não mostra nenhuma irregularidade no processo de carga e lacração de urnas em Itapeva e que é falso que 70% do processo eleitoral seja terceirizado e que a terceirização comprometa a integridade das eleições.