Com 11 dias de guerra na Ucrânia, já é possível se divisar pelo menos quatro alternativas de cenários futuros.
1) Cenário Finlândia – A hoje moderna e próspera Finlândia fez parte dos impérios sueco e russo até viver um período de independência no século 20, interrompido pela invasão por forças soviéticas em 1939. Apesar de perder parte do território, a resistência da pequena nação aos invasores lembra a Ucrânia atual. A Finlândia, que tem 1.340 quilômetros de fronteira com a Rússia, faz parte da União Europeia, mas não da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Diante do altíssimo custo humano da guerra, a saída finlandesa seria a menos sofrida, no momento. Com sua posição fortalecida por avanços territoriais mas diante da tenaz resistência a uma ocupação, a Rússia admitiria que a Ucrânia tem direito a existir como país independente. Assinaria-se um acordo de paz que prevê a possibilidade de a Ucrânia vir a integrar a União Europeia, embora tivesse de abdicar para sempre da Crimeia, da Otan e de abrigar armas nucleares em seu território. Pelo acordo, as repúblicas de Luhansk e Donetsk, de maioria russa, ganhariam autonomia relativa. O presidente Volodimir Zelensky teria de deixar o cargo ou convocar uma nova eleição.
2) Cenário Iugoslávia – A república nos Bálcãs, com eixo na Sérvia, tradicional aliada da União Soviética e da Rússia, se estilhaçou a partir dos anos 1990. Sangrentas guerras civis conduziram à criação de Eslovênia, Croácia, Sérvia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro, Kosovo e Macedônia do Norte.
Ainda que seu território não viesse a ser tão retalhado como o da antiga Iugoslávia, a Ucrânia poderia ser dividida em diferentes zonas, de acordo com a influência russa. Crimeia e as repúblicas de Luhansk e Donetsk seriam anexadas definitivamente à Rússia; o centro do país, incluindo Kiev, seria considerado um território neutro como colchão entre Rússia e Otan; e o Oeste, com capital em Lviv, se integraria à UE. Diferentemente dos Bálcãs, porém, há um sentimento de nação bem mais profundo na Ucrânia do que entre as repúblicas que compunham artificialmente a Iugoslávia.
3) Cenário Afeganistão – Com seu país ocupado nos últimos 150 anos por ingleses, soviéticos e norte-americanos, os afegãos nunca deram paz aos invasores, ainda que infinitamente mais poderosos. Nas três ocupações, as forças estrangeiras deixaram o país humilhadas.
Cenário mais provável, a Rússia ocuparia integralmente a Ucrânia e a administraria com apoio de colaboracionistas. Mesmo assim, teria de pagar um preço altíssimo para manter o país sob controle – estima-se que pelo menos 800 mil russos deveriam ser estacionados na Ucrânia para sufocar o país. Insurgentes financiados e apoiados pelo Ocidente tornariam a vida dos ocupantes um inferno, até que fosse assinado um acordo de transição para devolver o comando do país aos ucranianos por meio de eleições e um novo governo.
4) Cenário Síria – O país do Oriente Médio viveu uma guerra civil em três frentes. De um lado, rebeldes apoiados pelos EUA e pela Turquia tentaram derrubar o regime do ditador Bashar al-Assad ao mesmo tempo em que enfrentavam o Estado Islâmico. A Rússia veio em socorro do velho aliado e, com uma força esmagadora de aviões, navios, mísseis e 48 mil soldados, resgatou Assad da derrota iminente. O Estado Islâmico foi desarticulado e os rebeldes são agora uma força pálida que não ameaça mais o regime de Damasco.
Esse cenário é o cardápio típico de Vladimir Putin: desprezo a pressões externas, força bruta, eliminação da oposição e neutralização de insurgentes na marra. Como o governo sírio hoje, a nova administração da Ucrânia se transformaria em fantoche de Moscou. De certa forma, é o que já ocorre em Belarus e é o que se viu em 2008 na invasão da Geórgia, esmagada diante da ameaça de se juntar à Otan. Para ter eficácia, o modelo sírio pressupõe a instalação de um regime de terror. A Ucrânia já o conheceu por duas vezes antes: sob o stalinismo e o nazismo.