Em tempos normais, levas de turistas invadem as ruas de Delft, na Holanda, para admirar sua arquitetura e rica história – são sepultados na cidade os monarcas holandeses, por exemplo. Os turistas também se encantam com as tradicionais porcelanas azuis, uma arte trazida da China que fez Delft prosperar no Século 17 com mais de 30 fábricas do gênero.
Com a concorrência da porcelana inglesa, no fim do Século 19 a cidade perdeu o fôlego econômico, embora tenha preservado o seu charme medieval. O que os turistas não enxergam é a onda revigoradora de Delft graças a um cinturão tecnológico em torno de uma universidade de ponta – a Technische Universiteit Delft, mais conhecida como TU Delft, que construiu ao seu redor um universo de laboratórios e negócios em engenharia, microbiologia e computação quântica.
A capacidade de uma universidade de vanguarda catapultar economias é bem conhecida no mundo, mas ainda subaproveitada no Brasil. O Rio Grande do Sul mesmo assistiu nos últimos 15 anos ao nascimento de uma série de iniciativas em torno de algumas de suas principais universidades e que já gerou uma impressionante coleção de novos empreendimentos. Mas, apesar do visão de algumas universidades lá atrás, falta algo para que essas iniciativas puxem uma revolução na economia da Região Metropolitana.
Para além da evasão de cérebros e do descaso federal com a ciência, é preciso confiança da sociedade na própria capacidade, o que inclui apoio em peso do empresariado, secundado por financiamentos públicos e privados. Também seria salutar se universidades conseguissem concentrar esforços em especializações que a tornassem reconhecidas fora do país e atraíssem atenção internacional.
Assim como a tecnologia, a concorrência avança em saltos, inclusive no Brasil. Esta semana, graças a uma doação privada de quase R$ 300 milhões, o governo de São Paulo anunciou a criação do IPT Open, um programa para instalar no Instituto de Pesquisas Tecnológicas uma espécie de MIT brasileiro – a universidade de Boston que é um dos principais pólos científicos do planeta.
Todas essas questões só ressaltam a importância e a propriedade do lançamento do programa Avançar na Inovação pelo governo gaúcho, na quinta-feira, e das viagens do governador Eduardo Leite e do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Mello, para conhecer e atrair os efeitos transformadores da inovação. Por muito tempo, o Estado se apequenou em questiúnculas paroquiais ou visões preconceituosas contra novidades tecnológicas e a convivência do capital privado com o conhecimento acadêmico. Na era da inteligência artificial, porém, ficarão para trás o que ainda insistem em se manter na posição antônima.