Com um ano e meio de antecedência, o Brasil foi colocado na antessala do que pode vir a ser o segundo turno da eleição presidencial. Baixarias, campanhas de desinformação e ataques pessoais, sem nenhum espaço para discussão de projetos, são os ingredientes do aperitivo que está sendo servido ao Brasil no confronto dos líderes das pesquisas para 2022.
À primeira vista, mesmo em um país exausto por denúncias de corrupção e devastado pelo coronavírus, a hipótese de o eleitorado se decidir de novo entre a extrema-direita e a velha esquerda pareceria um desfecho inexorável diante do carisma e das paixões evocadas por Bolsonaro e Lula. Mas, olhado mais de perto, o duelo antecipado entre o atual e o ex-presidente tende a levar a um longo embate sangrento que pode deixar a candidatura de pelo menos um deles vitimada pelo tiroteio.
De tanto se xingarem e se autodestruírem, Bolsonaro e Lula podem fazer o eleitor refletir que nenhum dos dois presta mesmo e passar a dar atenção a uma terceira ou mesmo quarta via. Um dos mais espertos e hábeis políticos da República, Lula já se deu conta da armadilha e vem recolhendo a artilharia e a exposição prematura, além de tentar se mimetizar em candidato da moderação.
Para Lula e Bolsonaro, o ideal seria que ambos passassem ao segundo turno e dividissem o eleitorado cansado de guerra. Se um candidato de centro deslocar Lula ou Bolsonaro, a tendência é de que os eleitores do excluído migrem para o novo nome, derrotando tanto esquerda quanto direita. É por isso também que as forças de centro andam quietas. Quanto mais a disputa parecer agora que se resume a Lula e Bolsonaro, mais chance terá um candidato moderado de despontar no momento apropriado – daqui a um ano –, navegar entre os pólos e aportar no segundo turno com real chance de vitória.
O Rio Grande do Sul, cuja tradição de polarização antecede em décadas o atual lulismo x bolsonarismo, já foi testemunha de um fenômeno do gênero. Em 2002, Antônio Britto, então no PPS, e Tarso Genro, pelo PT, eram tidos como candidatos imbatíveis para o segundo turno ao governo do Estado. Em janeiro daquele ano, uma pesquisa do Ibope indicava míseros 2% de intenção de votos ao deputado Germano Rigotto, do PMDB. Enquanto Britto e Tarso se atacavam sem parar, Rigotto escolheu um coraçãozinho e mãos dadas como símbolos de campanha, manteve o discurso conciliador que sempre o caracterizou, saltou para o segundo turno e varreu o eleitorado com os votos em massa dos moderados, da direita e dos anti-PT.