Entrevistado ao fim de uma partida sobre por que tinha sido surpreendentemente derrotado, o tenista Guillermo Villas, argentino que foi número 1 do ranking nos anos 70, deu uma lição de rara serenidade e lucidez. “Perdi porque meu oponente jogou melhor”, reconheceu Villas. Pronto. Não precisava explicar mais nada. Villas foi um grande vencedor, mas também pode-se defini-lo como um perdedor de classe.
Trump, que só disputou duas eleições na vida, ganhou uma e agora perdeu outra. Ele tinha duas chances de ingressar com certo respeito para a história. Uma era ter governado civilizadamente, com profunda contrição pela democracia e os contrários. A outra era admitir que perdeu porque os eleitores não ratificaram seu nome e prefiram o oponente. Trump desperdiçou ambas oportunidades.
Ele não será o primeiro e nem o último. Os brasileiros mesmo têm um exemplo nem tão remoto. Em 1985, o presidente João Figueiredo, último remanescente do ciclo militar, se recusou a passar a faixa para José Sarney, vice de Tancredo, a quem considerava um traidor por ter presidido a Arena, partido do governo durante o regime, e depois mudado de lado.
Turrão e embestado, o general-presidente pediu mais tarde em uma entrevista que o esquecessem. Figueiredo governou seis anos e conduziu o país para fora do regime. Podia ter passado para a história como o presidente que devolveu o Brasil ao leito democrático, mas só não acabou definitivamente esquecido porque todos só lembram da sua recusa em transmitir o cargo.
Jogador acostumado a apostar alto e a blefar, Trump admitiu esta semana que, para ele, não é fácil perder. Em política, porém, é muito mais provável ser um derrotado do que um vencedor — até porque o número de candidatos sempre é maior do que o número de cargos. Política é também a arte de saber perder, engolir o fato de que se foi preterido e, por vezes, dar a volta por cima. Na pior das hipóteses, um bom derrotado será respeitado, inclusive pelos adversários. Com seu comportamento birrento, porém, Trump está fadado a, daqui a uns meses, fazer companhia na lata de lixo da história a Richard Nixon, outro republicano que legou uma nódoa na longa e sólida história da democracia americana.