Referência em gestão e austeridade, o Fortaleza fez um movimento importante também na relação do clube com as torcidas organizadas, algo que é permanentemente debatido no país. Depois de uma briga em São Paulo entre duas organizadas e o risco de novos conflitos, o clube declarou o rompimento institucional com as duas. É um passo importante e histórico, eu diria. Muitos clubes são reféns das organizadas e a premissa me parece clara: torcer, sem brigar.
Estive em Fortaleza no último final de semana para a transmissão do jogo do Grêmio e o clima tenso era muito comentado na cidade. A possibilidade de novos conflitos afastou outros torcedores do estádio e isso, convenhamos, é inadmissível. Na semana anterior, duas das organizadas protagonizaram uma briga no estádio do Corinthians, no jogo da Sul-Americana. A direção do Fortaleza, liderada pelo presidente Marcelo Paz, resolveu agir. Na declaração de rompimento, o clube pretende banir os integrantes identificados em atos de violência, ou seja, eles não poderiam mais frequentar os jogos do clube. Outra ação foi suspender a venda de ingressos nas sedes das duas agremiações, o licenciamento de produtos e apoio logísticos para aquelas torcidas. Na prática, o clube acabou com todas as regalias que são dadas às organizadas.
No rompimento feito pelo clube está também a expulsão do quadro de sócios e medidas judiciais para proibir a utilização do nome do clube por parte destas torcidas. Por fim, o Fortaleza não mais reconhece a existência institucional das duas torcidas organizadas.
São medidas fortes e necessárias. Elas mantêm a integridade do chamado "torcedor comum" e pune de forma severa quem se envolve em atos de violência. Virou algo banal a briga entre organizadas. Cenas de torcedores invadindo treinamentos para cobrar os atletas também. Os clubes concedem muitas facilidades para essas torcidas e isso precisa mudar. Torcida, seja ela organizada ou não, existe para torcer, não para criar conflitos.