Tempos esquisitos, idas e vindas, confusões, tragédias e indigências mentais ou morais... dramas de gente como esta que escreve há seis meses enclausurada.
Haja paciência, haja bom senso, haja internet.
Outro dia, Vicente estranhou meio divertido: sempre entretida na maquininha?
Pois nela escrevo, pago e recebo, converso, consolo e me consolo, pesquiso, descubro, assisto, aprendo coisas até incríveis, controlo os horários dos jogos de tênis, enfim, o smart é minha janela pro mundo e pras pessoas.
Certamente estou viciada nele.
Certamente quando A VACINA me liberar, se ainda viva e lúcida, será difícil abrir portas e janelas normais e viver de novo, de um jeito parecido ao velho jeito antes da máscara, da cotovelada ou patada, da infinita chatice com a qual vamos – tristemente – nos acostumando.
Protestei, reclamei, bufei e esperneei como aos cinco anos, quando as coisas não eram como eu queria... Incomodei meio mundo feito uma imbecil, passei pessimismo e negatividade inúteis, mas finalmente me convenci do que me escrevia uma amiga sábia: “A idade devia nos ensinar a entender que há coisas no mundo que não podemos mudar como achávamos na juventude e aceitar a circunstância do momento, salvando nossa saúde mental e a paz interior. Um dia vai passar”.
Foi mais ou menos isso que me disse.
Prometi a mim e a minha gente que iria tentar, porque do jeito que estava, estava chato demais.
Verdade que sempre fui mais para otimista nas rasteiras que a vida passa em todos nós, não me senti vítima, mas acreditei em alguma coisa como “mistérios do destino”, mesmo aos prantos eu cerrava os dentes e tocava a vida, apoiada em amores fiéis como amizades e família. E na crença de que, sim, somos transcendência mais do que miséria humana.
Mas esta fase atual no começo me intrigou, depois me assustou, depois me irritou infantilmente como se o cosmos tivesse aprontado essa brincadeira sinistra pra mim, não para todo o pobre planeta.
Às vezes me divertia um pouco com minha birra diante de uma peste mundial: quem você pensa que é?
Por fim nem eu mesma aguentava minha ridícula resistência a qualquer bom senso, e foi quando chegou o abençoado Whats, que foi simples sabedoria lúcida, mas me atingiu como uma descoberta repentina e original. Remédio certo na hora certa.
E foi então que, ao acordar com o barulho da chuva que tanto amo, escutei, primeiro tímido, depois glorioso, o canto dos primeiros sabiás anunciando que ainda teremos, provavelmente, uma primavera.