Antes que fique noite fechada, muitas vezes esse vislumbre de claridade numa beira de nuvem, ou um risco vermelho embaixo no horizonte.
Com a gente pode ser assim.
Em tempos difíceis e confusos como estes, às vezes tendemos a nos encolher mal-humorados porque assustados e tristes.
O pessimismo é mais fácil do que o seu contrário, basta a gente se entregar, e o mundo está louco, o ser humano não presta, o sistema (seja o que isso for) nos manipula... e por aí vai.
A amargura pinga do nosso olhar, a irritação salta da nossa boca, reclamamos, criticamos, ironizamos tudo e todos. Sim, é mais simples do que tentar agarrar o que temos de bom, sensato, inteligente e sábio lá no fundo da alma que nestes dias anda retorcida e emburrada.
Pois a quarentena é difícil e chatíssima, o isolamento frio e nada natural, a máscara incomoda e desumaniza: onde a boca, o sorriso, a palavra clara?
Mas a gente pode fazer melhor do que piorar o que já está chato, ruim, desconfortável... eu também. Não quero ser “mensageira da agonia” para meus leitores e amigos e seguidores do Instagram, muito menos para os familiares. Mesmo que só nos vejamos em vídeos ou de máscara, e de longe.
Se olharmos em torno, ou dentro de nós, sempre existirá o bom e o belo, o terno e até o divertido. A cor dessa árvore, o barulho do vento, a luz do restinho de sol na montanha, a risada de uma criança, a chave na porta quando quem precisou sair retorna... o novo livro no colo ou no notebook... quem sabe o privilégio de não precisar sair por obrigação... o telefonema do amigo apenas pra matar saudade, saber das novidades, para xingarmos juntos esse maldito vírus e filosofarmos sobre como serão mundo e humanidade quando tudo passar.
Tem ainda o dom de poder ficar quieto pensando (coisas boas, claro), ou vendo um bom programa de televisão. Eu pessoalmente, opto pelos da natureza, história, arte, viagens, concertos... e meu secreto vício... as séries policiais.
Fora isso, a sugestão ou pedido de sempre (se pudesse, ordem rigorosa): fique em casa se puder, use máscara até no elevador, abuse de álcool gel e sabonetes... e não ponha em perigo nenhuma outra pessoa dizendo que a covid é invenção de malvados que querem ferrar com o mundo.
Então: ficar bem, sobreviver, voltar à vida de sempre (ou nova vida) depende, muito, de nós. Sem tromba, sem bater pé, sem ironizar quem quer viver direito depois destes dias tortos.