Nas escolas onde estudei, muitas vezes, dizem que fui uma aluna exemplar. Não é verdade. Fui boa em português, escrevia direitinho, porque desde sempre li feito maluca e, lendo, aprende-se a escrever. Era péssima em exatas, matemática e outros me derrubavam fácil, muitas vezes fui aprovada, como dizia minha mãe, “com as calças na mão”, ou – conforme ela também afirmou para um grupo de jornalistas – eu era “aluna nota vírgula”, porque, se precisava de um seis, os professores, segundo ela por pena, me davam seis vírgula um ou dois. Fofocas maternas, feitas com algum humor, mas realmente não fui boa aluna. Primeiro, queria estar em casa, lendo na cama ou no terraço ou ainda no gramado, porque queria entender o mundo e, por alguma razão, acreditei até já ser mãe de família que as respostas deviam estar nos livros. Além disso, era inquieta, facilmente me entediava, tinha frouxos de riso por bobagens, adorava uma conversinha e não uma só vez empurrei devagar até a beira da minha mesa o estojo de lápis, canetas e borrachas até ele cair no chão, espalhando conteúdo e levando alguns colegas a se botarem de quatro para juntar tudo, diante dos olhos furiosos do mestre.
Levei muitos castigos, como ficar no corredor ou, se era grave, ir à sala do diretor, um senhor digno e calmo que me olhava por cima dos óculos e me fuzilava dizendo que eu envergonhava meu pai. Seguidamente, e por qualquer coisa, eu me sentia ré, e guardo resquícios disso... Mas de algumas coisas vale chegar à minha idade: a gente se aceita melhor, e com mais bom humor. Sobre isso, como disse numa entrevista a atriz que mais curti e curto também como pessoa, Katharine Hepburn: “Velhice? Ora, vai tudo muito bem!”. E acrescentou com aquela sua risadinha rouca: “Só não peça detalhes”.
De modo que escrevo sobre artes na primeiríssima idade e sobre aborrecimentos nesta, a terceira ou quarta: vi que as respostas não estão todas nos livros. Que temos de descobrir algumas, através de experiência, reflexão, contemplação e curiosidade. Que nada, a meu ver, explica por que andamos tão raivosos, tão impacientes, acusando tão facilmente os outros, que às vezes mal conhecemos, e matando gente como não fazem os bichos – como nesses quase triviais tiroteios nos Estados Unidos: mais 12 jovens universitários mortos e outros muitos feridos, porque alguém, aparentemente com problemas mentais, resolveu fuzilar gente. Seria crime “de ódio” como dizem? Seria, o que não parece, terrorismo? Seria apenas por doença mental não tratada, um ex-fuzileiro perturbado, desorientado e solto por aí? Não sei. Não sei se quero saber. E se não fosse, desde sempre, viciada em notícias, iria resumir minha televisão aos seriados criminais, à National Geographic e a alguns ótimos programas de arte até no Brasil, o que muito me conforta. E alguma vez aqui e ali pego entrevistas excelentes com pessoas que valeria a pena conhecer. Escritores, pintores, bailarinos, cientistas, políticos, ou simplesmente pessoas. Refugiados. Policiais. Professores. Médicos que atuam nas regiões mais miseráveis do mundo. Heróis que não se exibem nem se queixam.
Quanto ao resto, há coisas que é melhor nem saber.