Uma das coisas novas para mim, certamente não para pais jovens, educadores, médicos e psicólogos: os chamados pais ou mães-helicóptero. "Por quê?", perguntei interessada. Tive uma resposta breve mas clara, e, curiosa, fui pesquisar mais no Google. Pois são aqueles pais que, ao contrário dos que esquecem ou não aprenderam que quem ama cuida, e deixam os filhos largados, esses os sobrevoam como helicópteros fanáticos, vigiando, determinando, limitando, pesquisando e pensando em aplicar as regras mais esdrúxulas que nada têm a ver com o essencial: bom senso na educação. Só querem que os filhos não sofram, não se sujem nem brincando na terra, nunca tomem banho de chuva, não brinquem com os vizinhos, de preferência nem brinquem, com sua agenda de miniexecutivos ocupadíssima. Nunca tomem suas decisões, possivelmente mal-educados, pois não deviam ser frustrados, punidos, impedidos de se desenvolver de forma natural.
Pais exagerados, além de criarem filhos fragilizados, indecisos e nervosos, podem também criar pequenos terroristas.
Todo mundo conhece a mãe que corta o bife do filho de 15 anos, ou limpa o traseirinho do mangolão aos oito, o pai que nem pensa em deixar o filho escolher uma carreira, os pais que não liberam os filhos para nenhum passeio da escola, nada de dormir em casa de colegas, como se a menor brisa os pudesse matar.
Lembro-me de minha mãe, que tinha perdido um primeiro filhinho ainda bebê: meus pais eram preocupados em que eu não ficasse longe de casa, não andasse descalça nas lajes (podia ter febre, e quase sempre eu à noite tinha quase 40ºC se desobedecesse – ah, o poder da mente). Havia muitos cuidados, que mais tarde, já adulta, compreendi perfeitamente bem, e estavam longe da neurótica limitação dos helicópteros. Mesmo assim, me irritavam, e talvez subsistam em mim nessa minha dificuldade com qualquer autoridade que eu não respeite.
Pais exagerados, além de criarem filhos fragilizados, indecisos e nervosos (estou generalizando, claro), podem também criar pequenos terroristas. Escutei uma jovem mãe comentando com outra que seu filho de quatro anos adorava "causar terror", e divertida mostrou um vídeo no iPhone: o pequeno, lindo e encantador, numa loja de roupas com a mãe. Jogava-se no chão, pendurava-se nas araras, berrava, dava pontapés, por fim, cuspiu na mãe, diante do assombro de clientes e vendedoras.
Décadas atrás, falava-se em crianças "com muita personalidade" quando eram apenas mal-educadas. Ainda não havia essa espalhada imbecilização de crianças e adolescentes: nunca traumatizar, nunca negar, nunca punir, imagine falar e reprovação na escola. Nunca deixar que se frustrem; aprender, só brincando. Nem os adolescentes infratores podem ser chamados de criminosos, ainda que tenham estuprado e degolado uma velhinha; nem são presos, mas "conduzidos".
O que houve conosco, que nos queremos civilizados, que amamos os nossos filhos? Talvez seja útil um videozinho que peguei no Face: a mãe alimentando um bebezão de mais de um ano. Deitado no carrinho (em vez de comer sentado), recebia tudo na boca, e sem olhar a mãe. Fitava um pequena tela que a própria tinha presa na testa, para que a criança comesse automaticamente vendo um desenho animado: sem reclamar, sem saborear, sem nenhuma interação com a mãe, coisa essencial. Comia como um pequeno autômato, e certamente começava a viver pelo resto da vida um isolamento difícil de romper. Pois filhos de helicópteros não formam laços: estão sempre na sombra dessa desastrada excessiva vigilância.