Esta coluna sai a cada 14 dias; olho o calendário e me dou conta de que na próxima já estaremos em plena Feira do Livro. Que alegria! Não apenas porque a nossa Feira tem as virtudes que tem — é ao ar livre, é uma sessentona que não falha nem tarda, oferece a praça e o Centro de volta para todo mundo, vem acompanhada de todo o entorno arquitetônico e cultural com parte substancial do que de melhor a cidade preserva, Memorial, Casa de Cultura Mario Quintana, Margs, Farol Santander, Centro Cultural Erico Verissimo, Biblioteca Pública, Mercado também Público, Chalé da Praça XV, Museu Hipólito, o Paço Municipal agora transformado em centro cultural, uma infinidade de cenários...
Mas tem outra: é a primeira Feira depois da pandemia, ou nesse momento de quase-fim que estamos vivendo. Meu: vamos poder abraçar os camaradas, apertar a mão do Mauro da Ladeira Livros (que lança livro agora!), comprar pipoca, namorar os livros...
Livreiros: não nos decepcionem. Não exponham apenas esses livros de aeroporto — autoajuda, como-enriquecer-seu-filho e assemelhados —, que têm direito à existência mas, vamos combinar, são pouco estimulantes para leituras de fundo, aquelas que educam para além dos interesses imediatos. Não nos decepcionem, por favor.
Sim, eu tenho uns quantos livros para comprar, assim como disponho de uns quantos livros para sugerir. Hoje vou mencionar apenas dois. O primeiro é Um Outro Futebol — Pequenas Histórias da Bola, de Roberto Jardim (editora Democracia FC). Uma joia de livro, contendo textos breves e ao ponto, para leitura amena e inteligente, com uma coleção de dezenas de histórias relativas ao mundo da bola, que agora está — também ele, tardia e irreversivelmente — abarcado pelo debate antirrascista e antimachista, faltando agora envolver-se mais no debate democrático.
O outro é Volto Semana que Vem, de Maria Regina Pilla (editora Ama Livros). Trata-se de um sensacional livro de memórias, em que a autora repassa sua experiência em textos breves que colhem momentos significativos do passado. E que passado: Maria “Neneca” Regina estava na universidade nos vibrantes anos 1960, passou um ano estudando nos EUA e viu na prática a segregação racial ainda viva, depois vira militante política que cai na clandestinidade no Brasil, vai para a Argentina, onde é presa, e vive um longo exílio na França. Tudo isso visto por uma lente nada autocomplacente, cheia de verve e sensibilidade.
E são apenas dois, entre os milhares de livros à nossa espera.