Até onde vai sua coragem? A de um amigo meu é infinita...
Lembro de onde estava, a cor do dia, as quadras em que andei. Recebi uma ligação indo para uma livraria que eu, esse amigo e outro parceiro adorávamos, e toda vez que um de nós podia ir nessa livraria, nos ligávamos. Aquela coisa de provocar a inveja nos seus amigos com um momento de felicidade seu e eles se fazerem de furiosos, mas, na real, estarem felizes junto com você.
Mas essa ligação foi destrutiva. Meu amigo disse que sentia tonturas nas últimas semanas. Que achava que era labirintite. Mas que descobriram que era um tumor, na cabeça. A palavra tumor não é legal de ouvir.
Voltei dias depois dessa viagem em que tinha uma livraria. Ele já estava operado. No sofá. Deitado. Ainda viajando por causa dos remédios, com um agora descoberto câncer extirpado e vivendo as agruras do tratamento que o atrapalha até hoje a andar e falar.
Mas esse amigo tem coragem. Cercado por pessoas espetaculares na família, conseguiu enfrentar. Passou pela extrema dor, pela extrema tristeza depressiva, pelo afastamento forçado em tarefas de trabalho, mas passou...
E fez o maior ato de coragem até então: decidiu contar. Pra todo mundo, num livro sereno, autobiográfico e cheio de histórias que nos tocam e nos incomodam. Um livro em que você observa a dor do outro e revê as suas. Que, muitas vezes, não são dores, são problemas facilmente resolvíveis.
O apego ao simples, ao tempo, ao plano de saúde (ele fala isso sério e brincando ao mesmo tempo), às filhas, leituras longas, parcimoniosas. A descoberta do que realmente importa, quem de verdade importa e, de alguma forma, o porquê de estarmos nesse planeta, cheio de felicidades e tristezas na mesma vida.
Meu amigo se chama Daniel Scola. Ele lançou o livro chamado Aluno da Tempestade. E juro que conhecer as dores dele, a luta dele e por que ele persiste vai lhe fazer melhor. Porque são poucos os seres humanos que transformam as suas trevas em luz para outros.